segunda-feira, 28 de outubro de 2024

Papa Francisco Ressalta a Força do Coração de Jesus como Símbolo de Esperança e Unidade em Encíclica Histórica


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Em “Dilexit Nos”, o Papa explora o poder transformador do amor divino e humano do Coração de Jesus para enfrentar as crises de individualismo e fragmentação da sociedade moderna.


Vaticano – Em uma nova encíclica intitulada “Dilexit Nos” (“Ele Nos Amou”), o Papa Francisco lança luz sobre a devoção ao Sagrado Coração de Jesus, destacando-o como um símbolo profundo de amor, compaixão e unidade para um mundo dividido. Inspirando-se nas Escrituras e nos ensinamentos da Igreja, Francisco argumenta que o Coração de Jesus é a resposta cristã para os desafios contemporâneos, como o consumismo e o isolamento, que afastam as pessoas de seu “centro” e as desconectam de Deus e do próximo.

A encíclica abre com a afirmação de São Paulo: “Nada será capaz de separar-nos desse amor” (Rm 8, 39), lembrando aos fiéis que o amor de Cristo é “incondicional, sem pré-requisitos”​. Para o Papa, o Coração de Jesus representa um convite aberto para uma amizade profunda com Deus, especialmente necessária num mundo “líquido” e agitado, onde valores espirituais são cada vez mais negligenciados em favor de uma busca insaciável por bens materiais.

Símbolo de Unidade em Tempos de Divisão

No documento, Francisco aponta que o coração, desde os tempos antigos, é símbolo da “parte mais íntima dos seres humanos” e funciona como um “centro unificador”, capaz de unir razão e sentimentos​. Essa simbologia, segundo o Papa, é vital para a construção de um “projeto sólido para a vida”, um antídoto contra a superficialidade que marca a sociedade moderna.

“O Coração de Cristo nos convida a um amor que não fragmenta, mas une; que não é egoísta, mas sim generoso”, escreve Francisco, reafirmando que a devoção ao Sagrado Coração é “um caminho seguro para uma vida plena e significativa, em comunhão com Deus e o próximo”.

Chamado à Ação Social e Espiritual

A encíclica também destaca o impacto social da devoção ao Sagrado Coração de Jesus, sugerindo que ele pode ser uma força de transformação em tempos de crise. Francisco convida os cristãos a um compromisso ativo com a sociedade, inspirando-se no coração compassivo de Cristo para promover justiça, paz e reconciliação. “Levar o coração a sério tem consequências sociais”, lembra o Papa, citando o Concílio Vaticano II, que ensina sobre a necessidade de reformar o coração humano para o progresso da humanidade.

Para Francisco, o Coração de Jesus oferece “uma alternativa amorosa” ao materialismo, um espaço onde o amor e o respeito ao próximo podem prevalecer sobre o egoísmo e a indiferença.

“Amar com o Coração de Cristo”: Um Desafio e uma Esperança

Ao encerrar a encíclica, Francisco faz um apelo aos fiéis para que redescubram o Coração de Jesus como símbolo de amizade e compromisso com um mundo que necessita urgentemente de compaixão e unidade. Ele pede aos cristãos que cultivem um “coração atento e acolhedor” e estejam dispostos a “amar com o coração de Cristo”, tornando-se agentes de transformação no mundo.

O Papa encerra com uma prece pelo mundo, pedindo que Deus “derrame os tesouros de sua luz e de seu amor” para que as pessoas recuperem o “essencial e necessário: o coração”.

Esta encíclica já é considerada um marco no pontificado de Francisco, refletindo seu chamado constante por uma Igreja próxima e compassiva, que vê no Coração de Jesus um guia para os tempos modernos e um sinal de esperança para todos.

terça-feira, 22 de outubro de 2024

Liberdade e Confiança: O Caminho dos Filhos de Deus

 O apelo à liberdade, segundo o dominicano, é um convite a agir de acordo com a visão de São Paulo, que nos lembra que “nossa missão é pregar e encarnar essa liberdade”. Para ele, a liberdade é a essência do cristianismo: “é a dupla hélice do DNA cristão”. Ele destacou que isso envolve “a liberdade de dizer o que acreditamos e de ouvir o que os outros têm a dizer, sempre com respeito”. Essa liberdade é a de “falar com ousadia”, como os discípulos fizeram em Jerusalém após a Ressurreição, e é essencial que cada um de nós possa afirmar: “não temos o direito de ficar em silêncio”.

Liberdade Interior e Esperança

A verdadeira liberdade começa dentro de nós, e o dominicano alertou que “podemos ficar desapontados com as decisões do Sínodo”, reconhecendo que alguns podem considerá-las “imprudentes ou erradas”. No entanto, ele nos encorajou a manter a esperança, pois “nada pode nos separar do amor de Deus, nem mesmo as nossas falhas”. Essa liberdade nos permite “pertencer à Igreja e dizer Nós”.

A Liberdade de Pensar e Discutir

De acordo com o dominicano, “Deus opera em liberdade”. Ele lembrou que “crer no Espírito Santo não nos isenta de usar nossas mentes na busca da verdade”. O exemplo de Yves Congar, silenciado por Roma por “falar a verdade”, foi mencionado como uma inspiração. Radcliffe enfatizou: “não devemos temer a discordância, porque o Espírito Santo está agindo nela”. Ele ressaltou que a verdadeira liberdade é “pensar, falar e ouvir sem medo”, e que isso é ainda mais significativo quando confiamos que “Deus faz todas as coisas para o bem daqueles que o amam”.

A Providência de Deus e o Sínodo

Radcliffe também compartilhou sua visão sobre a ação da providência divina: “ela está agindo suave e silenciosamente, mesmo quando as coisas parecem estar dando errado”. Ele nos lembrou que “mesmo que o resultado do Sínodo não seja o que esperávamos, a providência de Deus continua em ação, guiando-nos por caminhos que só Ele conhece”. É importante entender que “este é apenas um sínodo, e haverá outros. Não precisamos fazer tudo de uma vez; devemos apenas dar o próximo passo”.

O Perigo da Arrogância e a Importância do Diálogo

Porém, ele alertou sobre os perigos da liberdade mal compreendida: “se formos livres apenas para defender nossas opiniões, corremos o risco de cair na arrogância”. Radcliffe advertiu que podemos acabar apenas “batendo os tambores da ideologia”, seja ela de esquerda ou de direita. Ele destacou a importância de participar do debate com nossas convicções, pois “se tivermos apenas a liberdade de confiar na providência de Deus, mas não ousarmos entrar no diálogo, seremos irresponsáveis e não amadureceremos”.

Essas reflexões são essenciais para compreendermos a sinodalidade: “a liberdade de Deus atua no âmago da nossa liberdade. Quanto mais é de Deus, mais é nossa liberdade”.

Frutos da Sinodalidade: Um Novo Começo Através da Comunhão e da Escuta

 Na segunda-feira, 21 de outubro, o Cardeal Grech, da Malta, fez uma reflexão profunda sobre a importância de “reunir” sem ceder à ganância, que, segundo ele, vai além dos bens materiais e se estende ao bem e à beleza que Jesus nos confia neste Sínodo. Ao analisar o texto, ele afirmou que “a herança deve ser dividida, mas mantida intacta por meio da gestão compartilhada”. O Cardeal enfatizou que “Jesus se recusa a dividir e, em vez disso, nos convida a buscar a comunhão”, identificando a ganância e o desejo de posse como as raízes da divisão.

Construindo Comunhão e Evitando Divisões

Seguindo o ensinamento do Papa, Grech reiterou que “Jesus rejeita toda lógica de partidarismo e divisão”, convidando os membros da Assembleia a refletirem sobre como se preparar para colher os frutos de seu caminho sinodal, sempre em busca da comunhão e da unidade.

Uma Colheita Abundante

O Cardeal continuou sua análise usando a parábola como metáfora para a Assembleia, destacando os “frutos abundantes” que foram revelados ao longo do processo. Ele apontou a escuta ativa, especialmente na primeira fase, como um sinal de vitalidade em todas as comunidades. “Nosso caminho foi rico em frutos”, disse, sublinhando que, como discípulos do Ressuscitado, é na fraqueza que a força de Deus se manifesta.

Refletindo sobre a Colheita

Grech também levantou uma questão pertinente: “O que fazer agora com os frutos que colhemos ao longo desses anos?” Ele advertiu sobre o risco de não ter os meios adequados para guardar esses dons e a tentação de pensar que “agora não há mais nada a fazer”, sugerindo que é um erro acreditar que o que foi colhido é o fim da jornada.

Cuidado com a Acumulação

Ele alertou sobre a armadilha de “acumular os dons de Deus sem reinvesti-los”. Grech enfatizou a importância de “não nos contentarmos sem buscar novos caminhos” para multiplicar essa colheita. “A compreensão das verdades e opções pastorais se desenvolve com o tempo”, acrescentou, incentivando todos a ampliar seu espaço de atuação.

Caminhando com o Espírito de Deus

Para continuar essa jornada, ele fez um apelo para “ficar longe da ganância, do desejo de manter tudo para si”. É crucial vencer a tentação de acreditar que os frutos colhidos são mérito próprio. Ele pediu que “recebamos tudo como um presente de Deus”, enfatizando que “o caminho a seguir é o do Espírito Santo”. Somente o Espírito pode nos manter abertos às novidades divinas.

Escutando o Espírito e aos Outros

O secretário do Sínodo alertou que “o homem da parábola só ouve a si mesmo”, e convidou a todos a, individualmente e em comunidade, “dialogar com o Espírito Santo”. Ele lembrou que, se ficarmos fechados em nossas próprias opiniões, perderemos a esperança. “Se ouvirmos apenas a nós mesmos, o que acumulamos começará a desaparecer”, alertou.

Um Novo Começo com Maria

Por outro lado, ao escutarmos a voz do Espírito, seremos capazes de encontrar novos caminhos. O Cardeal concluiu que “a conclusão desta assembleia sinodal não será o fim de algo, mas um novo começo”. Ele enfatizou a importância de confiar esse caminho a Maria, para que, com ela, possamos ouvir a voz do Espírito Santo e viver na liberdade que Ele nos oferece.



Momento Decisivo do Sínodo: Contribuições Finais, Reflexões e Pedidos de Desculpas Marcam a Semana


Nos próximos dias, o Sínodo sobre a Sinodalidade entrará em uma fase crucial. De segunda a quarta-feira, os membros da Assembleia Sinodal compartilharão suas contribuições, preparando o caminho para que a comissão redatora finalize o Documento Final até sexta-feira. Sheila Pires, secretária da Comissão de Comunicação, relembrou as palavras do Cardeal Grech, que afirmou durante a missa que o encerramento da Assembleia representa, na verdade, um novo começo. O Padre Timothy Radcliffe, em seu retiro espiritual, também chamou atenção para a importância da liberdade e da responsabilidade nesse processo.

Rascunho do Documento Final: Reflexão e Liberdade

Os participantes já receberam o rascunho do Documento Final, um texto provisório e confidencial que reflete as contribuições dos grupos menores e dos teólogos envolvidos no processo sinodal. Esse esboço coloca o foco na ressurreição de Jesus, e Sheila Pires destacou a necessidade de encarar a última semana com um espírito de liberdade. “Foi uma troca de dons”, afirmou ela, referindo-se ao compartilhamento de desafios e sonhos que estão moldando o documento. A Assembleia também dedicou orações em memória de um sacerdote assassinado em Chiapas, México, mostrando a unidade em meio à dor.

Cardeal Fernández e um Pedido de Desculpas

Durante as reuniões de estudo da última sexta-feira, uma situação inesperada levou o Cardeal Víctor Manuel Fernández a pedir desculpas publicamente na Sala Sinodal, diante do Papa Francisco. Paolo Ruffini, prefeito do Dicastério para a Comunicação, mencionou o fato em sua coletiva de imprensa, ressaltando também a importância das canonizações ocorridas no domingo e o encerramento do Sínodo Digital, que se dará na próxima sexta-feira, 25 de outubro, com o evento "Sínodo do Esporte".

Renovação da Igreja: Um Novo Caminho de Comunhão

O dominicano Timothy Radcliffe destacou que o verdadeiro propósito do Sínodo não está em manchetes sensacionalistas, mas em uma renovação profunda da Igreja. “O Sínodo trata de uma profunda renovação da Igreja em novas situações”, afirmou, alertando sobre a tentação de buscar decisões rápidas. Ele ilustrou seu ponto com dois exemplos poderosos: a visita do Papa Francisco à prisão, onde lavou os pés de detentos, e uma experiência pessoal no Paquistão, onde viu um dominicano americano imerso na vida local, vivendo como um “pastor com cheiro de ovelha”. Para Radcliffe, o documento final não traz mudanças drásticas, mas sugere novas maneiras de sermos Igreja, aprofundando nossa comunhão com Cristo.

O Diálogo: Fundamento da Igreja

O Cardeal Matteo Zuppi, Arcebispo de Bolonha, afirmou que “o diálogo é o fundamento da Igreja”, e destacou as mesas de discussão na Sala Sinodal como espaços de verdadeira escuta espiritual. Para ele, é essencial resistir à polarização e buscar o que nos une, sem apagar as vozes dos outros. Zuppi vê o processo sinodal como um grande sinal de comunhão em um mundo muitas vezes fragmentado. Ele enxerga o Documento Final como uma ferramenta para lembrar que a Igreja vive em um mundo que deve ser cuidado como nossa casa comum, pedindo que todos avancem além das divisões e barulhos que nos cercam. “Uma Igreja com o rosto de seu povo é uma Igreja mais atraente”, concluiu.

A Importância das Mulheres no Sínodo

A Irmã Nathalie Becquart, subsecretária do Sínodo, ressaltou o papel essencial das mulheres na Assembleia. Segundo ela, as mulheres contribuíram significativamente como relatoras e na elaboração do Documento Final. “O Sínodo ajuda homens e mulheres a interagir, destacando a riqueza da diversidade”, afirmou Becquart. Ela destacou que a qualidade da escuta mútua promoveu uma verdadeira fraternidade, ajudando a Igreja a avançar de forma inclusiva e equitativa.

As Igrejas de Rito Oriental e o Diálogo Ecumênico

Dom Manuel Nin Güell, Eparca Apostólico para os católicos de rito bizantino na Grécia, compartilhou as experiências de sua comunidade, composta por fiéis de diversas origens. Ele destacou como o Sínodo tem iluminado a realidade dessas igrejas orientais, que desempenham um papel crucial no diálogo ecumênico com as igrejas ortodoxas. Para ele, o Sínodo sublinhou o valor dessas comunidades como pontes de entendimento e comunhão, reforçando que sua riqueza não se limita a “variantes folclóricas”, mas contribui para a unidade da Igreja Católica.

Caminhando Juntos para um Futuro de Esperança

Enquanto o Sínodo se aproxima de seus momentos finais, os participantes olham para o futuro com esperança. O diálogo, a inclusão e a fraternidade são os pilares que sustentam este processo de renovação, permitindo que a Igreja continue a ser um sinal de comunhão e paz em um mundo dividido. 

Papa Francisco se reúne com mulheres e leigos do Sínodo

 


Neste sábado, o Papa Francisco, conhecido por sua escuta atenta, encontrou-se com dois grupos que, ao longo da história da Igreja, não receberam muita atenção: mulheres e leigos. Esses grupos foram representados pelos participantes da Segunda Sessão da Assembleia Sinodal sobre a Sinodalidade, realizada na Sala Paulo VI, no Vaticano.

Mulheres e leigos ganham voz e voto no Sínodo

A iniciativa partiu dos próprios participantes e foi acolhida pelo Santo Padre. Durante o atual pontificado, avanços significativos foram feitos em relação à participação de mulheres e leigos na vida da Igreja, e as avaliações sobre esses avanços variam. No entanto, é inegável que, no Sínodo, mulheres e leigos agora possuem voz e voto, o que representa uma conquista e motivo de alegria para muitos, pois abre as portas para que eles participem dos processos de discernimento, uma prática crucial na Igreja contemporânea.

Essa proximidade fortalece a própria Igreja, reforçando as conexões entre vocações, ministérios e serviços diversos. Se a missão da Igreja — anunciar o Evangelho e construir o Reino de Deus — deseja ser eficaz, o batismo deve ser o ponto de partida, com o Povo de Deus assumindo o chamado de Jesus a todos os seus discípulos.

A escuta é um valor central para Francisco

Nas mesas redondas do Sínodo, a presença de leigos e mulheres tem sido fundamental. Eles trazem consigo o conhecimento prático da vida cotidiana da Igreja, oferecendo uma visão detalhada da missão diária. Para o Papa Francisco, ouvir essas vozes tem grande valor, pois permite que ele se aproxime do sensus fidei fidelium — o sentido da fé do Povo de Deus como um todo.

Embora o conteúdo exato das conversas não tenha sido divulgado, é claro que foi um momento especial, um "tempo de Deus", em que muitos puderam encontrar inspiração e motivação na presença e nas atitudes do Papa, especialmente em sua disposição para escutar. Francisco chega cedo às sessões sinodais, atendendo a fila de pessoas, entre elas mulheres e leigos, que buscam um momento ao seu lado.

União de vozes por uma Igreja sinodal e missionária

Uma das participantes do encontro destacou: "Foi significativo ouvir as mulheres de diferentes continentes, essa soma de vozes e sensibilidades unidas pelo desejo de uma Igreja sinodal e missionária. Todos tão diversos e, ao mesmo tempo, dispostos a caminhar juntos, abrir portas e comunicar a Boa Nova. É uma alegria sentirmo-nos irmãs."

Na Igreja de Francisco, há espaço para todos, e todos são ouvidos, inclusive aqueles que, ao longo da história, foram silenciados. No caminho sinodal, muitas mulheres e leigos continuarão a avançar, trabalhando para que esse modo de ser Igreja se enraíze nas comunidades de base. E, mesmo que alguns tentem silenciá-los, eles seguirão testemunhando, não apenas com palavras, mas com a própria vida, levando a Boa Nova aos confins do mundo.