terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Papa: "Não tenhamos medo de encontrar o olhar de Jesus sobre nós"

As leituras do dia nesta 4ª semana no Tempo Comum inspiraram o Papa Francisco na homilia da missa matutina de terça-feira (31/01), na Casa Santa Marta.
Dirigindo-se aos participantes, o Pontífice iniciou recordando que a Carta aos Hebreus nos exorta a correr na fé com “perseverança, mantendo o olhar fixo em Jesus”. Já no 5º capítulo Evangelho de Marcos, “é Jesus que nos olha e percebe que estamos ali. Ele nos está próximo, está sempre no meio da multidão”, explicou o Papa.
“Não está com os guardas que fazem escolta, para que ninguém o toque. Não, não! Ele fica ali, comprimido entre as pessoas. E toda vez que Jesus saia, tinha mais gente. Especialistas de estatísticas poderiam até ter noticiado: “Cai a popularidade do Rabí Jesus”... Mas ele procurava outra coisa: procurava as pessoas. E as pessoas o procuravam. O povo tinha os olhos presos Nele e Ele tinha os olhos presos nas pessoas. “Sim, sim, no povo, na multidão”, “Não, não, em cada um!” É esta a peculiaridade do olhar de Jesus. Jesus não massifica as pessoas; Ele olha para cada um”.
Pequenas alegrias
O Evangelho de Marcos narra dois milagres: Jesus cura uma mulher que tem hemorragias há 12 anos e que, no  meio da multidão, consegue tocar sua roupa. Ele percebe que foi tocado e depois, ressuscita a filha de 12 anos de Jairo, um dos chefes da Sinagoga. Ele observa que a menina está faminta e diz aos pais que lhe deem de comer:
“O olhar de Jesus passa do grande ao pequeno. Assim olha Jesus: olha para nós, todos, mas vê cada um de nós. Olha os nossos grandes problemas, percebe as nossas grandes alegrias e vê também as nossas pequenas coisas... porque está perto. Jesus não se assusta com as grandes coisas e leva em conta também as pequenas. Assim olha Jesus”.
Se corrermos “com perseverança, mantendo fixo o olhar em Jesus” – afirma o Papa Francisco – acontecerá conosco o que aconteceu com as pessoas depois da ressurreição da filha de Jairo, que ficaram todas admiradas:
“Vou, vejo Jesus, caminho avante, fixo o olhar em Jesus e o que vejo? Que Ele tem o olhar sobre mim! E isto me faz sentir um grande estupor: é a surpresa do encontro com Jesus. Mas não tenhamos medo! Não tenhamos medo, assim como não o teve aquela senhora que foi tocar o manto de Jesus. Não tenhamos medo! Corramos neste caminho, com o olhar sempre fixo em Jesus. E teremos esta bela surpresa, que nos encherá de estupor. O próprio Jesus com os olhos fixos em mim”. 

Papa: A maior força da Igreja está nas pequenas igrejas perseguidas

A maior força da Igreja hoje está nas pequenas Igrejas perseguidas. Foi o que disse o Papa na missa celebrada na manhã desta segunda-feira (30/01) na Casa Santa Marta. A homilia do Pontífice foi dedicada aos mártires.
“Sem memória não há esperança”, afirmou o Papa comentando a Carta aos Hebreus, na qual se exorta a recordar toda a história do povo do Senhor. Antes de tudo, uma “memória de docilidade”, “a memória da docilidade de tantas pessoas, começando por Abrãao que, obediente, saiu de sua terra sem saber onde ia. Em especial, no 11º capítulo da primeira leitura, se fala de outras duas memórias. A memoria dos grandes gestos do Senhor, realizado por Gedeão, Barac, Sansão, Davi “tantas pessoas – disse o Papa – que fizeram grandes gestos na história de Israel”.
A mídia não fala dos mártires de hoje
E depois há um terceiro grupo do qual fazer memória, a “memória dos mártires”: “os que sofreram e deram a vida como Jesus”, que “foram lapidados, torturados, mortos na espada”. De fato, a Igreja é “este povo de Deus”, “pecador, mas dócil”, “que faz grandes coisas e testemunha também Jesus Cristo até o martírio”:
“Os mártires são aqueles que levam avante a Igreja, são os que a amparam, que a ampararam no passado e a ampararam hoje. E hoje existem mais mártires do que nos primeiros séculos. A mídia não fala porque não faz notícia, mas muitos cristãos no mundo hoje são bem-aventurados porque perseguidos, insultados, presos. Há muitos nas prisões, somente por carregar uma cruz ou por confessar Jesus Cristo! Esta è a gloria da Igreja e o nosso amparo e também a nossa humilhação: nós que temos tudo, tudo parece fácil para nós e se nos falta alguma coisa reclamamos... Mas pensemos nesses irmãos e irmãs que hoje, num número maior do que nos primeiros séculos, sofrem o martírio!”.
“Não me esqueço”, prosseguiu Francisco, “o testemunho daquele sacerdote e daquela religiosa na catedral de Tirana: anos e anos de prisão, trabalho forçado e humilhação”, para os quais não existiam os direitos humanos.
A força da Igreja são as pequenas Igrejas perseguidas
O Papa recordou que a maior força da Igreja hoje está nas “pequenas Igrejas perseguidas”:
“Também nós, é verdade e também justo, ficamos satisfeitos quando vemos uma ação eclesial grande, que teve muito sucesso, os cristãos que se manifestam. Isso é bonito! Esta é a força? Sim, é força, mas a força maior da Igreja hoje está nas pequenas Igrejas, pequeninas, com pouca gente, Igrejas perseguidas, com os seus bispos no cárcere. Esta é a nossa glória hoje. Esta é a nossa glória e a nossa força hoje.”
Sangue dos mártires é semente de cristãos
“Ousaria dizer: Uma Igreja sem mártires é uma Igreja sem Jesus”, afirmou e na conclusão o Papa convidou a rezar “pelos nossos mártires que sofrem muito”, “por aquelas Igrejas que não são livres de se expressar”. “Elas são a nossa esperança”. O Papa recordou que nos primeiros séculos da Igreja um antigo escritor dizia: “O sangue dos cristãos, o sangue dos mártires, é semente dos cristãos.”
“Eles com o seu martírio, o seu testemunho, com o seu sofrimento, doando a vida, oferecendo a vida, semeiam cristãos para o futuro e em outras Igrejas. Ofereçamos esta missa pelos nossos mártires, por aqueles que agora sofrem, pelas Igrejas que sofrem, que não têm liberdade, e agradeçamos ao Senhor por Ele estar presente com a força de seu Espírito nesses nossos irmãos e irmãs que hoje dão testemunho D'Ele.”

Papa: o pobre em espírito sabe ser humilde e disponível à graça de Deus

Quanto mais tenho, mais quero: isso mata a alma. E o homem ou a mulher que tem essa atitude não é feliz e não alcançará a felicidade: disse o Papa Francisco no Angelus deste domingo, ao meio-dia, na alocução que precedeu a oração mariana.
Francisco havia partido das Bem-aventuranças, “carta magna” do Novo Testamento, que caracterizam a liturgia deste IV Domingo do Tempo Comum. No sermão da montanha “Jesus manifesta a vontade de Deus de conduzir os homens à felicidade”, destacou.
Nesta sua pregação Jesus segue um caminho particular: começa com o termo “bem-aventurados”, ou seja, “felizes”; prossegue com a indicação da condição para ser tais; e conclui fazendo uma promessa, explicou o Pontífice.
Francisco acrescentou que o motivo da bem-aventurança não está na condição de “pobres em espírito”, “aflitos”, “famintos de justiça”, “perseguidos”, mas na promessa sucessiva, a ser acolhida com fé como dom de Deus. “Parte-se da condição de dificuldade para abrir-se ao dom de Deus e aceder ao mundo novo, o ‘reino’ anunciado por Jesus.”
Não é um mecanismo automático, disse o Papa. “Não podem ser bem-aventurados se não se converteram”, se não se tornaram “capazes de apreciar e viver os dons de Deus”.
Francisco quis ater-se à primeira bem-aventurança: “Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos céus” (Mt 5,4), para em seguida explicitar quem são estes:
“O pobre em espírito é aquele que assumiu os sentimentos e a atitude daqueles pobres que em sua condição não se rebelam, mas sabem ser humildes, dóceis, disponíveis à graça de Deus.”
A felicidade dos pobres – dos pobres em espírito – tem uma dúplice dimensão: em relação aos bens e em relação a Deus, explicou o Santo Padre, acrescentando:
“Em relação aos bens, aos bens materiais, esta pobreza em espírito é sobriedade: não necessariamente renúncia, mas capacidade de experimentar o essencial, de partilha; capacidade de renovar todos os dias a admiração pela bondade das coisas, sem sucumbir na opacidade do consumo voraz."
“Quanto mais tenho, mais quero; mais tenho, mais quero: esse é o consumo voraz. E isso mata a alma. E o homem ou a mulher que faz isso, que tem essa atitude ‘mais tenho, mais quero’, não é feliz e não alcançará a felicidade.”
Em relação a Deus, afirmou, “é louvor e reconhecimento que o mundo é bênção e que na sua origem está o amor criador do Pai. Mas é também abertura a Ele, docilidade a sua senhoria: “é Ele, o Senhor, é Ele o Grande, não eu sou grande porque tenho tantas coisas! É Ele: Ele que quis o mundo para todos os homens e o quis para que os homens fossem felizes”, acrescentou.
O pobre em espírito é o cristão que não deposita sua confiança em si mesmo, nas riquezas materiais, não é obstinado nas próprias opiniões”, disse ainda o Papa fazendo em seguida uma observação pertinente à convivência nas comunidades cristãs:
“Se em nossas comunidades existissem mais pobres em espírito, haveria menos divisões, contrastes e polêmicas. A humildade, como a caridade, é uma virtude essencial para a convivência nas comunidades cristãs. Os pobres, nesse sentido evangélico, se mostram como aqueles que mantêm firme a meta do Reino dos céus, fazendo entrever que este é antecipado de forma germinal na comunidade fraterna, que privilegia a partilha à posse.”
Após a oração mariana, o Pontífice lembrou a celebração, neste domingo, do Dia mundial de luta contra a hanseníase, ressaltando que esta doença, mesmo em diminuição, encontra-se ainda entre as mais temidas e atinge os mais pobres e marginalizados. “É importante lutar contra esta enfermidade, mas também contra as discriminações que ela gera”, exortou.
Encontravam-se presentes na Praça São Pedro, em meio aos cerca de 25 mil fiéis e peregrinos, três mil jovens da Ação Católica de Roma, formando a “Caravana da Paz”. Dois deles, um garoto e uma garota, se juntaram ao Santo Padre durante a saudação do Pontífice aos diversos grupos de fiéis e peregrinos reunidos na Praça. O garoto leu uma breve mensagem aos presentes. Em seguida, foram soltos alguns balões, símbolo da paz.
O Papa lembrou mais uma vez as populações do centro da Itália, expressando sua proximidade a estes que ainda sofrem as consequências do terremoto e das difíceis condições atmosféricas deste inverno europeu.
O Pontífice despediu-se dos presentes pedindo que não se esquecessem de rezar por ele. (RL)

Ícone da Mãe de Misericórdia será coroado e exposto no Vaticano

O ícone da “Virgem Maria Mãe de Misericórdia”, que os pobres e os voluntários da Pequena Casa da Misericórdia de Gela – sul da Itália – quiseram como homenagem a Nossa Senhora pela graça do Ano Jubilar da Misericórdia, será coroado e exposto à veneração pública na Basílica de São Pedro, no Vaticano.
O ícone representa a Virgem Maria mostrando Jesus, misericórdia do Pai, e o avental sinal identificativo do serviço do Cristo e de misericórdia para com o próximo. Desde 13 de novembro de 2016 – data do encerramento diocesano do Jubileu da Misericórdia – o ícone é venerado no altar principal da Igreja de Santo Agostinho em Gela, Centro de espiritualidade nacional da Misericórdia, refeitório e dormitório dos pobres.
Ícone exposto na missa de 2 de fevereiro, presidida pelo Papa
Conduzidos pelo vigário geral da Diocese de Piazza Armerina, Pe. Antonino Rivoli, cem fiéis da cidade siciliana chegarão a Roma na próxima quarta-feira (01/02) com alguns pobres e voluntários da Pequena Casa da Misericórdia para participar da audiência geral do Papa e da celebração eucarística na Basílica Vaticana presidida pelo Cardeal Angelo Comastri. Durante a missa se terá o rito de coroação do Ícone Sagrado.
Na quinta-feira, 2 de fevereiro, festa da Apresentação do Senhor, o Papa Francisco presidirá à solene celebração eucarística com a presença do Ícone Sagrado.
Maria, mestra de misericórdia e caridade
“Temos a honra de o Departamento das Celebrações Litúrgicas do Santo Padre ter escolhido, para a ocasião do Dia Mundial da Vida Consagrada, nosso Ícone Sagrado que será exposto na Capela Papal”, disse o diretor do Centro de Espiritualidade, Pe. Pasqualino di Dio.
“Mais uma vez Maria torna-se para a nossa cidade fonte de consolação e de segura esperança, Maria é a misericordiosa, como rezamos na antiga antífona da Salve-Rainha; Ela recebeu a Misericórdia feita carne e se deixou conduzir por Ele a servir a anciã e cansada prima Isabel, que certamente jamais pôde restituir o gesto de caridade e os três meses de permanência de Maria na casa de Zacarias. Maria nos ensina que a caridade deve ser silenciosa, discreta, desinteressada, sem esperar nada em troca”, acrescentou Pe. Pasqualino.
5 de fevereiro, retorno a Gela
No domingo, 5 de fevereiro, o Ícone Sagrado retornará à Sicília chegando a Gela às 17h30 locais, onde será acolhido na Igreja de São Francisco de Paula. Vai se realizar uma breve procissão e se terá na Igreja de Santo Agostino, onde o ícone será recolocado, a missa de ação de graças presidida pelo bispo de Piazza Armerina, Dom Rosario Gisana. (RL)

domingo, 29 de janeiro de 2017

Papa: fundamentalismo cria desertos culturais e espirituais

Cidade do Vaticano (RV) – O ecumenismo de sangue foi o tema do discurso do Papa Francisco ao receber na manhã de sexta-feira (27/01), no Vaticano, os membros da Comissão mista Internacional para o diálogo teológico entre a Igreja Católica e as Igrejas Ortodoxas Orientais.
“Muitos de vocês pertencem a Igrejas que assistem cotidianamente à expansão da violência e a atos terríveis, perpetrados pelo extremismo fundamentalista”, disse o Pontífice, que foi enfático ao criticar as situações que geram “sofrimento trágico”: são contextos de pobreza, injustiça e exclusão social gerados por interesses partidários, com frequência externos, e por conflitos antigos, que produziram condições “de vida miseráveis, desertos culturais e espirituais nos quais é fácil manipular e instigar ao ódio”. Neste cenário, os cristãos são chamados a oferecer juntos a paz que vem do Senhor um mundo ferido e dilacerado.
A exemplo do que escrevia São Paulo, afirmou ainda o Papa, o sofrimento de uma Igreja é o sofrimento de todas as Igrejas. Por isso, “uno-me a vocês na oração, invocando o fim dos conflitos e a proximidade de Deus às populações que sofrem, especialmente as crianças, os doentes e os idosos. De modo especial, me preocupo com os bispos, sacerdotes, consagrados e fiéis vítimas de sequestros cruéis, e todos os que foram feitos reféns ou reduzidos à escravidão.”
Em contextos onde “a violência chama a violência e a violência semeia morte”, para Francisco a resposta dos cristãos deve ser “o puro fermento do Evangelho” que, sem prestar-se às lógicas da força, faz surgir frutos de vida.
Neste esforço, os mártires indicam o caminho, concluiu o Papa: “Assim como na Igreja primitiva o sangue dos mártires foi semente de novos cristãos, que hoje o sangue de tantos mártires seja semente de unidade entre os fiéis”.
A Comissão mista Internacional para o diálogo teológico entre a Igreja Católica e as Igrejas Ortodoxas Orientais foi criada em 2003 e acaba de realizar seu 14º encontro. Em estudo, estão os Sacramentos. 

D. Leonardo Steiner: "Cristãos têm muito a oferecer hoje"

 A mensagem do Papa para o 50º Dia Mundial da Paz de 2017 é dedicada à “não-violência: estilo de uma política para a paz”. Francisco almeja paz a todo o homem, mulher, menino e menina, e reza para que a imagem e a semelhança de Deus em cada pessoa nos permitam reconhecer-nos mutuamente como dons sagrados com uma dignidade imensa.
Sobretudo nas situações de conflito, respeitemos esta ‘dignidade mais profunda’, afirma o Pontífice, e façamos da não-violência ativa o nosso estilo de vida.
Neste momento, o Brasil vive uma realidade política, econômica, social e religiosa bastante conflituosa, onde as relações humanas se têm caracterizado pela fragilidade; a intolerância e o desrespeito muitas vezes superam a dimensão do transcendente e as palavras se tornam espadas com as quais ferir. Como praticar a não-violência, como pede o Papa?
É o que perguntamos a Dom Leonardo Steiner, bispo auxiliar de Brasília e Secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.

“Ao convocar um Ano para a não-violência, o Papa recorda o que já tem afirmado mais vezes: nós estamos em etapas numa Terceira Guerra, tanta é a violência no mundo. Esta violência se caracteriza pela intolerância: com os imigrantes, intolerância religiosa, sexual, política. Sentimos cada vez mais a dificuldade do respeito um com o outro”.
“Estamos numa situação em que o cristão tem muito a dizer, muito a testemunhar. Numa realidade em que o Evangelho propõe uma nova convivência, que é o Reino de Deus, reino do amor, reino da misericórdia”.
“Temos muito a oferecer no mundo de hoje; temos a oferecer um mundo aonde o outro não é apenas tolerado, o outro é amado em sua diferença. O Papa tem incentivado a acolhermos as pessoas, o outro, com as suas diferenças”.
“A violência está chegando hoje em todas as realidades: violência nas palavras... que agressividade existe hoje nas palavras! A palavra hoje se tornou mortal, se tornou ferida, quase uma espada. É preciso que a palavra de novo se torne proximidade e desperte para a grandeza e o valor da pessoa humana”.
“Talvez também tenhamos perdido a perspectiva da transcendência, talvez estejamos por demais ligados a obrigações e não percebemos que o extraordinário é mais do que obrigação, que a justiça é mais do que o direito e a transcendência é um apelo a este ‘mais’, é um apelo à liberdade, à receptividade do outro. Nós temos que agradecer muito o Santo Padre por ter convocado este ano e creio que nós temos muito trabalho pela frente mas temos muito a oferecer ao mundo de hoje”. 
(CM)

Card. Parolin em Madagáscar pelos 50 anos de relações diplomáticas

O secretário de Estado vaticano, Cardeal Pietro Parolin, encontra-se na África, onde visitará a República de Madagáscar, por ocasião dos 50 anos das relações diplomáticas do país do oceano Índico com a Santa Sé, e a República do Congo, para a assinatura do Acordo Quadro sobre as relações entre a Igreja católica e o Estado do centro-oeste da África. A viagem durará onze dias e está prevista uma breve etapa em Nairóbi, no Quênia.
Na noite de quinta para sexta-feira (26 e 27 de janeiro), o purpurado chegou ao aeroporto de Antananarivo – capital de Madagáscar. Aguardava-o o núncio apostólico, Dom Paolo Gualtieri, o premier Oliver Solonandrasana Mahafali, acompanhado de muitos ministros, todos os bispos da Conferência episcopal malgaxe, e muitos fiéis, que do lado de fora do aeroporto entoavam cantos tradicionais de boas-vindas.
Na manhã de sexta-feira, o Cardeal Parolin foi recebido em audiência pelo Presidente da República, Hery Martial Rajaonarimanampianina, o qual expressou grande reconhecimento pela visita, recordando as boas relações entre a Santa Sé e Madagáscar, as quais foram reforçadas cada vez mais ao longo destes 50 anos.
O mandatário recordou a visita feita ao Papa Francisco em junho de 2014 e expressou sua mais sincera gratidão por tudo que a Igreja católica faz no país, sobretudo com seus centros educacionais, de saúde e caritativos.
Hery Martial reconheceu o papel importante que a Igreja realiza com suas instituições, contribuindo para o desenvolvimento social de todos os cidadãos, os quais não somente devem ser preparados para o futuro, mas educados segundo os valores tradicionais como fiéis, para dar uma estabilidade moral, espiritual e econômica a toda a República malgaxe.
Ao mesmo tempo, assegurou sua atenção pessoal a fim de que as forças da ordem vigilem com mais circunspeção pela incolumidade das instituições cristãs, que nos últimos tempos têm sofrido muitos furtos por obra de desconhecidos.
Igualmente, manifestou sua firme rejeição à violência terrorista perpetrada por extremistas religiosos e fez votos de um contínuo diálogo com os prelados para colaborar nos âmbitos comuns.
Por último, auspiciou que a celebração do cinquentenário das relações diplomáticas sirva para tornar sempre mais estreitos e fortes os laços com a Santa Sé e que se trabalhe a fim de se chegar a estabelecer, mediante um Acordo Quadro, uma mais profunda colaboração.
Por sua vez, o Cardeal Parolin quis transmitir a afetuosa saudação do Papa Francisco, que é muito amado em Madagáscar, sobretudo entre os jovens, e expressou sua profunda gratidão pelo acolhimento, extraordinariamente caloroso, que lhe foi reservado.
Tendo recordado o motivo da visita, manifestou a disponibilidade da Santa Sé a querer continuar essa profícua colaboração para tutelar, mediante as instituições da Igreja católica, os direitos dos mais frágeis e a assistência necessária a todas as pessoas, em particular, aos mais pobres e marginalizados.
O purpurado fez votos de que através da Igreja local malgaxe se possa contribuir para o bem-estar espiritual e social dos cidadãos. Auspiciou que sua visita seja ocasião de um avanço positivo para as boas relações existentes entre Madagáscar e a Santa Sé, para se alcançar um acordo que assegure às instituições católicas da Igreja seu pleno reconhecimento jurídico.
Ainda na sexta-feira, na sede do Primeiro-ministro teve lugar uma cerimônia na qual o Cardeal Parolin  foi condecorado com a alta honorificência de Grande Oficial da Ordem Nacional de Madagáscar. (RL)

Papa aos membros de Vida Consagrada: fidelidade à vocação

O Santo Padre concluiu suas atividades, na manhã deste sábado (28/01), no Vaticano, recebendo na Sala Clementina, cerca de 100 participantes na Plenária da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica.
Em seu pronunciamento, o Papa expressou sua satisfação em receber os membros da Congregação que, nestes dias, em sua plenária, refletiram sobre o tema da “fidelidade e dos abandonos”:
“O tema que escolheram é importante. Podemos dizer que, neste momento, a fidelidade é colocada à prova: é o que demonstram as estatísticas que examinaram. Encontramo-nos diante de certa "hemorragia" que enfraquece a vida consagrada e a própria vida da Igreja. Os abandonos na vida consagrada nos preocupam muito. É verdade que alguns a deixam por um gesto de coerência, porque reconhecem, depois de um sério discernimento, que nunca teve vocação; outros, com o passar do tempo, faltam de fidelidade, muitas vezes a apenas alguns anos da sua profissão perpétua”.
Aqui, o Papa perguntou: o que aconteceu? Como vocês destacaram no seu encontro, são muitos os fatores que condicionam a fidelidade nesse tempo de mudança de época em que se torna difícil assumir compromissos sérios e definitivos. Neste sentido, Francisco destacou alguns desses fatores:
“O primeiro fator que não ajuda a manter a fidelidade é o contexto social e cultural em que vivemos. De fato, vivemos imersos na chamada “cultura do fragmento”, do  “provisório”, que pode levar a viver "à la carte" e ser escravo da moda. Esta cultura leva à necessidade de se manter sempre abertas as "portas laterais" para outras possibilidades, alimenta o consumismo e esquece a beleza de uma vida simples e austera, provocando muitas vezes um grande vazio existencial”.
Vivemos em uma sociedade onde as regras econômicas substituem as leis morais, ditam e impõem seus próprios sistemas de referência em detrimento dos valores da vida; uma sociedade onde a ditadura do dinheiro e do lucro defende sua visão de existência. Em tal situação, disse o Pontífice, é preciso primeiro deixar-se evangelizar e, depois, comprometer-se com a evangelização. Assim, apresentou outros fatores ao contexto sócio-cultural:
“Um deles é o mundo da juventude, um mundo complexo, rico e desafiador. Não faltam jovens generosos, solidários e comprometidos em nível religioso e social; jovens que buscam uma vida espiritual, que têm fome de algo diferente do que o mundo oferece. Mas, mesmo entre esses jovens, há muitas vítimas da lógica do mundanismo, como a busca do sucesso a qualquer preço, o dinheiro e o prazer fáceis”.
Essa lógica, advertiu o Papa, atrai muitos jovens, mas nosso compromisso é estar ao lado deles para contagiá-los com a alegria do Evangelho e de pertença a Cristo. Essa cultura deve ser evangelizada. Aqui, indicou um terceiro fator condicionante, que vem da própria vida consagrada, onde, além de uma grande santidade não faltam situações de contra testemunho que tornam difícil a fidelidade:
“Tais situações, entre outras, são: a rotina, o cansaço, o peso de gestão das estruturas, as divisões internas, a sede de poder... Se a vida consagrada quiser manter a sua missão profética e o seu encanto, continuando a ser escola de lealdade para os próximos e os distantes, deverá manter o frescor e a novidade da centralidade de Jesus, a atração pela espiritualidade e da força da missão, mostrar a beleza do seguimento de Cristo e irradiar esperança e alegria”.
Outro aspecto ao qual a vida consagrada deverá prestar especial atenção é a “vida fraterna comunitária”, que deve ser alimentada pela oração comum, a leitura da palavra, a participação ativa nos sacramentos da Eucaristia e da Reconciliação, o diálogo fraterno, a comunicação sincera entre os seus membros, a correção fraterna, a misericórdia para com o irmão ou a irmã que peca, a partilha das responsabilidades. A seguir, o Santo Padre recordou a importância da vocação:
“A vocação, como a própria fé, é um tesouro que trazemos em vasos de barro, que nunca deve ser roubado ou perder a sua beleza. A vocação é um dom que recebemos do Senhor, que fixou seu olhar sobre nós e nos amou, chamando-nos a segui-lo mediante a vida consagrada, como também uma responsabilidade para quem a recebeu”.  
Falando de lealdade e de abandono, disse ainda Francisco, “devemos dar muita importância ao acompanhamento. A vida consagrada deve investir na preparação de assistentes qualificados para este ministério. E concluiu dizendo que “muitas vocações se perdem por falta de bons líderes. Todas as pessoas consagradas precisam ser acompanhados em nível humano, espiritual e profissional. Aqui entra o discernimento que exige muita sensibilidade espiritual. (MT)

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Mons. Viganò: Papa convida a abrir espirais de esperança

O olhar de quem relata é central, porque a realidade não tem um significado unívoco. Assim se expressou o prefeito da Secretaria para a Comunicação, Mons. Dario Edoardo Viganò, que apresentou na manhã desta terça-feira (24/01) na Sala de Imprensa da Santa Sé, no Vaticano, a Mensagem do Papa para o 51º Dia Mundial das Comunicações Sociais. Substancialmente, Francisco pede uma comunicação construtiva, a lógica da boa notícia, que não significa contar o mundo de Heidi, explica o prelado, mas abrir espirais de esperança. Eis o que disse Mons. Viganò em entrevista concedida à Rádio Vaticano:
Mons. Dario Edoardo Viganò:- “Romper a espiral de uma comunicação negativa, que leva também ao anestesiamento da consciência, significa que, é claro, a história é feita de cinza, de preto por vezes, mas que mantém sempre espirais que se abrem num horizonte de esperança, de proximidade. É isso que somos chamados a fazer: procurar fazer de modo que o mal jamais seja o protagonista vencedor.”
RV: Mesmo tragédias como terremotos, avalanches, catástrofes naturais podem ser, de certo modo, cenário de algumas boas notícias?
Mons. Dario Edoardo Viganò:- “Isso não significa ceder à ingenuidade irenista de um relato inexistente da realidade, mas, por exemplo, contar o mundo de bem que floresce de uma situação tão trágica: penso no fato que homens e mulheres concretamente e pessoalmente se façam próximos dessa situação. É como dizer: ‘Olhe que a situação é difícil, porém, faço com você um trecho do caminho’.”
RV: Todos conhecemos o poder de propagação das más notícias, especialmente nas mídias sociais, e também a dificuldade de desmentir quando estas são falsas. Francisco pede aos comunicadores que sejam canais vivos da Boa Notícia. Como a mídia vaticana pode realizar isso?
Mons. Dario Edoardo Viganò:- “A mídia vaticana pode ajudar a mídia internacional sobretudo mostrando os processos e os contextos nos quais se situam e se colocam os anúncios e as mensagens do Santo Padre, porque muitas vezes são descontextualizadas e, por conseguinte, perdem também aquela força própria, aquela pertinência que, ao invés, elas têm.”
RV: Como se pode fazer isso? Oferecendo também um olhar sobre a história, ajudando a entender a realidade?
Mons. Dario Edoardo Viganò:- “Absolutamente sim, porque todo pronunciamento de um Pontífice jamais é um partir novamente do zero, mas é um inserir-se numa sucessão apostólica que – não nos esqueçamos – é sempre uma história do Espírito Santo: quando primeiro Bento XVI e agora o Papa Francisco convidam a um critério para ler o que tange à Igreja, é o critério de uma hermenêutica espiritual.”
RV: Na Mensagem se ressalta que as imagens e metáforas, mais do que os conceitos, são o caminho privilegiado para comunicar “a vida nova” em Cristo. Isso responde propriamente ao estilo do Papa Francisco: a sua comunicação é espiritual e não sociológica. Isso porque uma linguagem que comunica com os gestos é mais inclusiva?
Mons. Dario Edoardo Viganò:- “Aquilo que é espiritual não é inconsistente. O espiritual tem a ver com a história, com a densidade da argila da qual a vicissitude do homem é permeada, e o homem é feito de uma comunicação que sabe usar muito bem não somente o aspecto argumentativo-conceitual, mas também os gestos e a proximidade. E os gestos e a proximidade expressam o calor, o inclusivo. Portanto, creio que o Papa Francisco é um mestre nisso, provavelmente por tradição cultural, por formação própria. Mas creio, que a ideia de uma comunicação tão metafórica – que é parábola, relato – diz também como é possível ter comunicações que sejam relações, relações também de proximidade.”
Esta terça-feira, 24 de janeiro, dia em que a Igreja recorda São Francisco de Sales, Patrono dos jornalistas, Mons. Dario Edoardo Viganò presidiu à santa missa na capela do Palácio Pio – sede da Rádio Vaticano.
“Peçamos que o nosso trabalho seja sempre um instrumento de construção”, disse, “que saiba repelir a tentação de fomentar o confronto”, mas favoreça “a cultura do encontro”. (DD – RL)

Francisco propõe estilo "aberto e criativo" para comunicar esperança

“Comunicar esperança e confiança no nosso tempo” é o título da Mensagem do Papa Francisco para o 51º Dia Mundial das Comunicações Sociais, que será celebrado no dia 28 de maio, Ascensão do Senhor.
A mensagem é divulgada tradicionalmente no dia 24 de janeiro, Festa de S. Francisco de Sales, padroeiro dos comunicadores.
O protagonista da notícia, escreve Francisco, não pode ser o mal - que nos leva à apatia, ao desespero e a anestesiar a consciência –, mas a solução aos problemas, com um estilo comunicador aberto e criativo.
A realidade não tem um significado unívoco, afirma o Papa: tudo depende do olhar com que a enxergamos, dos “óculos” que decidimos pôr para ver: mudando as lentes, também a realidade aparece diferente. Portanto, o ponto de partida bom para ler a realidade é a Boa Notícia por excelência, ou seja, o Evangelho de Jesus Cristo.
Esta boa notícia, explica, não é boa porque nela não se encontra sofrimento, mas porque o próprio sofrimento é vivido num quadro mais amplo, como parte integrante do amor de Cristo ao Pai e à humanidade. Em Cristo, Deus fez-Se solidário com toda a situação humana, revelando-nos que não estamos sozinhos, porque temos um Pai que nunca pode esquecer os seus filhos.
Boa notícia
“Visto sob esta luz, acrescenta o Pontífice, qualquer novo drama que aconteça na história do mundo torna-se cenário possível também duma boa notícia, uma vez que o amor consegue sempre encontrar o caminho da proximidade e suscitar corações capazes de se comover, rostos capazes de não se abater, mãos prontas a construir.”
A esperança fundada na boa notícia que é Jesus, afirma ainda o Papa, nos faz erguer os olhos e contemplá-Lo no quadro litúrgico da Festa da Ascensão. “Aparentemente, o Senhor afasta-Se de nós, quando na realidade são os horizontes da esperança que se alargam.” Para Francisco, esta esperança não pode deixar de moldar também o nosso modo de comunicar, com a persuasão de que é possível enxergar e iluminar a boa notícia presente na realidade de cada história e no rosto de cada pessoa.
“A esperança é a mais humilde das virtudes, porque permanece escondida nas pregas da vida, mas é semelhante ao fermento que faz levedar toda a massa.” Quem se deixa conduzir pela Boa Notícia no meio do drama da história, conclui o Pontífice, torna-se farol na escuridão deste mundo, ilumina a rota e abre novas sendas de confiança e esperança.

Papa: "Confiar em Deus; Ele sabe o que é melhor para nós"

Cidade do Vaticano (RV) – Cerca de 7 mil pessoas participaram do encontro semanal com o Papa nesta quarta-feira (25/01) na Sala Paulo VI.
Após saudar os participantes, Francisco deu início à audiência com uma catequese sobre Judite, a grande heroína de Israel que encorajou os chefes e o povo de Betúlia a esperarem incondicionalmente no Senhor e assim fazendo, libertou a cidade da morte.
A narração conta que o exército de Nabucodonosor, comandado pelo general Holofernes, assediou Betúlia cortando o fornecimento de água e enfraquecendo assim a resistência da população. A situação ficou dramática ao ponto que os moradores pedem aos anciãos que se rendam aos inimigos. O fim é inevitável, a capacidade de confiar em Deus exaurida, e para fugir da morte, não resta que se entregar.
O Pontífice continuou o relato:
“Diante de tanto desespero, os chefes do povo propõem-lhe esperar ainda cinco dias, para ver se Deus os socorreria. É aqui que entra Judite: ‘Agora, colocais o Senhor todo-poderoso à prova! Mesmo que Ele não queira enviar-nos auxílio durante estes cinco dias, tem poder para nos proteger dos nossos inimigos, em qualquer outro momento que seja do seu agrado. Esperemos pela sua libertação!’”
Francisco ressaltou a figura de Judite naquela situação e revelou aos presentes:
“Esta mulher, viúva, arrisca até fazer um papelão diante dos outros... mas é corajosa, vai adiante. Esta é uma minha opinião pessoal: as mulheres são mais corajosas que os homens”.
Com a força de um profeta, aquela mulher convida a sua gente a manter viva a esperança no Senhor. E aquela esperança foi premiada: Deus salvou Betúlia pela mão de Judite. A este ponto, o Papa refletiu e pediu aos fiéis:
“Com ela, aprendamos a não impor condições a Deus. Confiar Nele significa entrar nos seus desígnios sem nada pretender, aceitando inclusivamente que a sua salvação e o seu auxílio nos cheguem de modo diferente de nossas expetativas. Nós pedimos ao Senhor vida, saúde, amizade, felicidade… E é justo que o façamos; mas na certeza que Deus sabe tirar vida até da morte, que se pode sentir paz mesmo na doença, serenidade mesmo na solidão e felicidade mesmo no pranto. Não podemos ensinar a Deus aquilo que Ele deve fazer, nem aquilo de que temos necessidade. Ele sabe isso melhor do que nós; devemos confiar, porque os seus caminhos e os seus pensamentos são diferentes dos nossos.  
E outra vez, antes de concluir, o Papa mencionou o papel das mulheres e avós:
“Quantas vezes ouvimos palavras corajosas de mulheres humildes... que pensamos, sem desprezá-las, que são ignorantes... mas são as palavras da sabedoria de Deus, as palavras das avós que tantas vezes sabem dizer a coisa certa... palavras de esperança. Elas têm experiência de vida, sofreram tanto. Confiaram em Deus, que lhes deu este dom”.
“Esta é a oração da sabedoria, da confiança e da esperança”, terminou o Papa, concedendo em seguida a bênção apostólica.

Papa: a revolução cristã é deixar de viver para nós mesmos

No final da tarde desta quarta-feira (25), na Basílica de São Paulo Fora dos Muros, o Papa Francisco presidiu a cerimônia das vésperas que recorda a conversão de S. Paulo.
A celebração marcou o encerramento da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, que teve tema inspirado no quinto capítulo da segunda Carta de São Paulo aos Coríntios: “Reconciliação – É o amor de Cristo que nos impele”. A mensagem do Papa na homilia foi motivada pelo mesmo caminho e empenho ecumênico do diálogo através dos “embaixadores da reconciliação”, “unidos no sofrimento pelo nome de Jesus”.
Francisco começou sua exortação lembrando o encontro de Paulo com Jesus, na estrada para Damasco, que transformou radicalmente a vida do apóstolo ao aderir ao “amor gratuito e imerecido de Deus, a Jesus Cristo crucificado e ressuscitado”. Uma feliz notícia, a da “reconciliação do homem com Deus”, que Paulo não poderia guardar para si mesmo e foi impelido a proclamar.
"O amor de Cristo": não se trata do nosso amor por Cristo, mas do amor que Cristo tem por nós. Da mesma forma, a reconciliação para a qual somos impelidos não é simplesmente uma iniciativa nossa: é primariamente a reconciliação que Deus nos oferece em Cristo. Antes de ser esforço humano de crentes que procuram superar as suas divisões, é um dom gratuito de Deus. Como resultado desse dom, a pessoa perdoada e amada é chamada, por sua vez, a proclamar o evangelho da reconciliação em palavras e obras, a viver e dar testemunho de uma existência reconciliada.
Nessa perspectiva, “podemos hoje nos perguntar”, disse Francisco, “como é possível proclamar esse evangelho de reconciliação depois de séculos de divisões?”. O caminho vem do próprio Paulo que enfatiza que “a reconciliação em Cristo não se pode realizar sem sacrifício”.
Jesus deu a sua vida morrendo por todos. De modo semelhante os embaixadores de reconciliação, em seu nome, são chamados a dar a vida, a não viver mais para si mesmos, mas para Aquele que morreu e ressuscitou por eles (cf. 2 Cor 5, 14-15). É a revolução que Paulo viveu, mas é também a revolução cristã de sempre: deixar de viver para nós mesmos, buscando os nossos interesses e a promoção da nossa imagem, mas reproduzir a imagem de Cristo, vivendo para Ele e de acordo com Ele, com o seu amor e no seu amor.
Para a Igreja e para cada confissão cristã, disse o Papa, “é um convite a não se basear em programas, cálculos e benefícios, a não se abandonar a oportunidades e modas passageiras, mas a procurar o caminho com o olhar sempre fixo na cruz do Senhor: lá está o nosso programa de vida”.
É um convite também a sair de todo o isolamento, a superar a tentação da autorreferência, que impede de identificar aquilo que o Espírito Santo realiza fora do nosso próprio espaço. Poderá se realizar uma autêntica reconciliação entre os cristãos quando soubermos reconhecer os dons uns dos outros e formos capazes, com humildade e docilidade, de aprender uns dos outros, sem esperar que primeiro sejam os outros a aprender de nós.
“Se vivermos esse morrer para nós mesmos por amor de Jesus”, disse o Papa, o nosso velho estilo de vida é relegado ao passado. Um passado que é útil e necessário para purificar a memória, mas que “pode paralisar e impedir de viver o presente”.
A Palavra de Deus nos encoraja a tirar força da memória, a recordar o bem recebido do Senhor; mas também nos pede que deixemos o passado para trás a fim de seguir Jesus no presente e, n’Ele, viver uma vida nova. Àquele que renova todas as coisas (cf. Ap 21, 5), consintamos que nos oriente para um futuro novo, aberto à esperança que não decepciona, um futuro onde será possível superar as divisões e os crentes, renovados no amor, que irão se encontrar plena e visivelmente unidos.
O Papa Francisco finalizou a homilia saudando os representantes de outras confissões cristãs e comunidades eclesiais presentes na cerimônia e recordando o caminho da unidade, em modo particular o quinto centenário da Reforma Protestante.
O fato de, hoje, católicos e luteranos poderem recordar, juntos, um evento que dividiu os cristãos e de o fazerem com a esperança posta sobretudo em Jesus e na sua obra de reconciliação, constitui um marco significativo, alcançado – graças a Deus e à oração – através de cinquenta anos de mútuo conhecimento e de diálogo ecumênico. (AC)

Família Vicentina celebra 400 anos de fundação

A Família Vicentina celebra, este ano, o quarto centenário do nascimento de seu carisma de serviço aos pobres.
O ano de 1617 é importante na vocação de São Vicente de Paulo por dois motivos: 25 de janeiro, festa da Conversão de São Paulo, o Santo pregou o primeiro sermão da missão, em Folleville, na França, depois de ouvir a confissão de um agricultor em fim de vida que lhe fez entender o abandono espiritual em que viviam os pobres das áreas rurais. 
Em agosto daquele ano, em sua experiência de pároco em Châtillon, se encontra face a face com a pobreza e a miséria que transformará a vida do Santo da Caridade. 
Vicente de Paulo percebe que era necessário educar as pessoas, torná-las conscientes de sua dignidade, elevá-las como seres humanos e ensiná-las a verdade do desígnio de Deus. 
Os acontecimentos de Folleville e Châtillon marcaram, em 1617, o início do carisma vicentino que prossegue hoje um caminho de 400 anos de serviço aos pobres, seguindo o exemplo de seu fundador São Vicente de Paulo, padroeiro universal das Obras de caridade.
A Família Vicentina está presente nos cinco continentes com uma grande variedade de ministérios: missões, obras de assistência médica, atenção aos sem-teto, refugiados, crianças abandonadas, mães que sustentam suas famílias, e a favor da educação, formação, promoção e desenvolvimento das obras. 
Atualmente, a Família Vicentina possui 225 ramos de várias comunidades de vida consagrada e associações laicais em mais de 80 países do mundo. Dentre os ramos mais importantes e conhecidos estão a Associação Internacional da Caridade (AIC), a Congregação da Missão, as Filhas da Caridade (fundadas por Santa Luísa de Marillac), a Sociedade de São Vicente de Paulo (fundada pelo Beato Frederico Ozanam), a Associação da Medalha Milagrosa, a Juventude Vicentina Mariana (JMV), os seculares Lazaristas (MISEVI), as Irmãs Missionárias da Caridade de Santa Joana Anthida Touret e outros ramos. 
O Superior Geral da Congregação da Missão e da Companhia das Filhas da Caridade, Pe. Tomaž Mavrič, incentivou a viver este ano jubilar, partilhando a experiência de quatro projetos comuns: 
- A peregrinação da relíquia do coração de São Vicente de Paulo que teve início nesta quarta-feira (25/01), em Folleville, na França, e visitará todos os países onde a Família Vicentina está presente.
- A implementação de um projeto mirado a envolver todos os ramos da Família Vicentina em favor dos estrangeiros, refugiados, sem-teto e migrantes deslocados. 
- Um simpósio internacional sobre a atualidade do carisma da missão e caridade, que se realizará, em Roma, de 13 a 15 de outubro deste ano. Após o encontro a Família Vicentina será recebida pelo Papa Francisco. 
- O International Film Festival, concurso internacional focalizado na vida de São Vicente de Paulo.

domingo, 22 de janeiro de 2017

Papa: cristãos devem superar mentalidade egoísta

Vencer a mentalidade egoísta dos doutores da lei, que condena sempre. Esta é a advertência de Francisco na Missa matutina na Casa Santa Marta (20/01).
Inspirando-se na Primeira Leitura, extraída da Carta aos Hebreus, o Papa destacou que a nova aliança que Deus faz conosco em Jesus Cristo nos renova o coração e nos muda a mentalidade.
Deus renova tudo “na raiz, não somente na aparência”, disse o Papa, afirmando que esta nova aliança tem as suas características. A primeira: “a lei do Senhor não é um modo de agir externo”, entra no coração e “nos muda a mentalidade”. Na nova aliança, afirmou, “há uma mudança de mentalidade, há uma mudança de coração, uma mudança no sentir, no modo de agir”, “um modo diferente de ver as coisas”.
Superar e mentalidade egoísta
Francisco cita como exemplo uma obra à qual um arquiteto pode olhar com frieza, com inveja ou, pelo contrário, com uma atitude de alegria e “benevolência”:
“A nova aliança nos muda o coração e nos faz ver a lei do Senhor com este novo coração, com esta nova mente. Pensemos nos doutores da lei que perseguiam Jesus. Eles faziam tudo, tudo o que estava prescrito pela lei, tinham o direito em mãos, tudo, tudo, tudo. Mas sua mentalidade era uma mentalidade distante de Deus. Era uma mentalidade egoísta, centrada sobre si mesmos: o coração deles era um coração que condenava, sempre condenando. A nova aliança nos muda o coração e nos muda a mente. Há uma mudança de mentalidade”.
Deus perdoa os nossos pecados; a nova aliança muda a nossa vida
O Senhor, acrescentou o Papa, vai avante e nos garante que perdoará as iniquidades e não se recordará mais dos nossos pecados. Às vezes, comentou, “gosto de pensar, brincando um pouco com Deus: “O Senhor não tem boa memória”... É a fraqueza de Deus, explicou, que, quando perdoa, esquece:
“Ele esquece porque perdoa. Diante de um coração arrependido, ele perdoa e esquece: ‘Eu esquecerei e não lembrarei dos seus pecados’. Este também é um convite a não levar o Senhor a lembrar dos pecados, ou seja, não pecar mais. O Senhor me perdoou, esqueceu, mas eu tenho uma dívida com o Senhor... mudança de vida. A Nova Aliança me renova e me faz mudar de vida; não mudar apenas a mentalidade e o coração, mas a vida. Logo, viver sem pecado, distante do pecado. Eis a verdadeira recriação do Senhor”.
Enfim,  o Papa voltou a atenção ao terceiro ponto, a “mudança de pertença”. “Nós pertencemos a Deus, os outros deuses não existem”, “são bobeiras”.  
O Senhor muda o nosso coração para mudar a nossa mentalidade
“Mudança de mentalidade, mudança de coração, mudança de vida e mudança de pertença”. “Esta é a recriação que o Senhor faz melhor que a primeira criação”. “Peçamos ao Senhor para ir adiante nesta aliança de ser fiéis”, disse o Papa acrescentando:
“O sigilo desta aliança, desta fidelidade. Ser fiel a este trabalho que o Senhor faz para mudar a nossa mentalidade, mudar o nosso coração. Os profetas diziam: ‘O Senhor transformará o seu coração de pedra em coração de carne’. Mudar o coração, mudar a vida, não pecar mais ou não fazer o Senhor se lembrar do que já tinha se esquecido em relação aos nossos pecados de hoje e mudar de pertença: nunca pertencer à mundanidade, ao espírito do mundo, às coisas efêmeras do mundo, mas somente ao Senhor”.

Papa aos dominicanos: nos movemos na chamada "sociedade líquida"

O Papa Francisco presidiu na tarde deste sábado, 21 de janeiro, na Basílica São João de Latrão, a Solene Celebração Eucarística de conclusão do Jubileu dos 800 anos de fundação da Ordem dos Pregadores (dominicanos). De fato, em 21 de janeiro de 1217, São Domingos de Gusmão recebeu do Papa Honório III a Bula Gratiarum Largitori Omnium, na qual, pela primeira vez, se fala de “Ordem dos Pregadores”. Precisamente o aniversário deste documento papal foi escolhido como data para a conclusão do Jubileu Dominicano.
Na sua homilia o Papa Francisco recordou a Evangelho do dia no qual a Palavra de Deus apresenta dois cenários humanos opostos: “de um lado o "carnaval" da curiosidade mundana, do outro a glorificação do Pai através das boas obras”. A nossa vida – disse o Santo Padre - se move sempre entre esses dois cenários.
É interessante ver como, já então, dois mil anos atrás, os apóstolos do Evangelho se encontrassem diante deste cenário, que nos dias de hoje se desenvolveu e globalizou por causa da sedução do relativismo subjetivista.
Sociedade líquida
“A tendência à busca de novidade, própria do ser humano encontra o ambiente perfeito na sociedade do aparecer, no consumo, na qual muitas vezes se reciclam coisas velhas, mas o importante é fazê-las aparecer como novas, atraentes, cativantes. Também a verdade é manipulada, disse Francisco acrescentando: “nós nos movemos na chamada "sociedade líquida", sem pontos fixos, desequilibrada, sem referências sólidas e estáveis; na cultura do efêmero, do usa e joga fora”.
"Carnaval" mundano
Diante deste "carnaval" mundano destaca-se nitidamente o cenário oposto, que encontramos nas palavras de Jesus que acabamos de  ouvir: "glorifiquem a vosso Pai que está nos céus". E como ocorre essa passagem da superficialidade pseudo-festiva à glorificação?, pergunta-se o Papa.  “Ocorre graças às boas obras daqueles que, tornando-se discípulos de Jesus, tornaram-se "sal" e "luz".
Francisco afirmou em seguida que em meio ao "carnaval" de ontem e de hoje, esta é a resposta de Jesus e da Igreja, este é o apoio sólido em meio ao ambiente "líquido": as boas obras que podemos realizar graças a Cristo e ao seu Santo Espírito, e que fazem nascer no coração a ação de graças a Deus Pai, o louvor. E a pergunta: "por quê?", "por que aquela pessoa se comporta dessa maneira?": a inquietude do mundo diante do testemunho do Evangelho.
É preciso que o sal não perca o sabor 
Mas para que ocorra este "abalo" é preciso que o sal não perca o sabor e a luz não se esconda. Jesus diz muito claramente: se o sal perde o seu sabor não serve para mais nada. Ai do sal que perde o seu sabor! Ai de uma Igreja que perde o sabor! Ai de um padre, de um consagrado, de uma congregação que perde o sabor!
Francisco concluiu: “hoje damos glória ao Pai pela obra que São Domingos, cheio da luz e sal de Cristo, realizou oitocentos anos atrás; uma obra a serviço do Evangelho, pregado com a palavra e com a vida; uma obra que, com a graça do Espírito Santo, fez com que muitos homens e mulheres fossem ajudados a não se perderem no meio do "carnaval" da curiosidade mundana, mas, ao invés sentissem o sabor da sã doutrina, o sabor do Evangelho, e se tornassem, por sua vez, luz e sal, artesãos de boas obras ... e verdadeiros irmãos e irmãs que glorificam a Deus e ensinam a glorificar a Deus com as boas obras da vida”. (SP)

Papa Angelus: converter-se não é mudar de roupa mas de atitude

“Nós, cristãos de hoje, temos a alegria de proclamar e testemunhar a nossa fé, porque houve aquele primeiro anúncio, porque houve aqueles homens humildes e corajosos que responderam generosamente ao chamado de Jesus”. Foi o que disse o Papa Francisco na sua alocução que precedeu a oração mariana do Angelus na Praça de São Pedro neste domingo, na qual ele comentou a passagem do Evangelho sobre o início da pregação de Jesus na Galileia e o chamado dos apóstolos.
"O Evangelho deste domingo narra o início da pregação de Jesus na Galileia. Ele deixa Nazaré, um vilarejo nas montanhas, e se estabelece em Cafarnaum, um importante centro à margem do lago, habitado principalmente por pagãos, o ponto de cruzamento entre o Mediterrâneo e o interior da Mesopotâmia. Esta escolha significa que os destinatários de sua pregação não são apenas seus compatriotas, mas todos aqueles que chegam à cosmopolita “Galileia das nações”.
Vista da capital Jerusalém, aquela terra - continuou Francisco - é geograficamente periférica e religiosamente impura, por causa da mistura com aqueles que não pertenciam a Israel. Da Galileia não se esperavam certamente grandes coisas para a história da salvação. No entanto, dali se espalha a “luz” sobre a qual refletimos nos domingos passados: a luz de Cristo.
A mensagem de Jesus espelha a de Batista, anunciando o “reino dos céus”. Este reino não comporta o estabelecimento de um novo poder político, mas o cumprimento da aliança entre Deus e seu povo, que vai inaugurar uma época de paz e justiça. Para realizar este pacto de aliança com Deus,  - afirmou o Papa - cada um é chamado a converter-se, transformando sua maneira de pensar e de viver. Não se trata de mudar as roupas, mas as atitudes!
"O que diferencia Jesus de João Batista – destacou o Papa – é o estio, o método. Jesus escolhe ser profeta itinerante. Ele não espera as pessoas, mas se move ao encontro delas".
As primeiras saídas missionárias de Jesus ocorrem ao longo do lago da Galileia, em contato com a multidão, especialmente com os pescadores. Alí Jesus não só proclama a vinda do reino de Deus, mas procura os companheiros para associar à sua missão de salvação. Neste mesmo lugar encontra dois pares de irmãos: Simão e André, Tiago e João; Ele os chama dizendo: "Sigam-me, eu vos farei pescadores de homens". O chamado os alcança no auge de suas atividades diárias: o Senhor se revela a nós não de modo extraordinário ou sensacional, mas na quotidianidade de nossas vidas. A resposta dos quatro pescadores é imediata e pronta: "No mesmo instante eles deixaram as suas redes e o seguiram".
"Nós, os cristãos de hoje, temos a alegria de proclamar e testemunhar a nossa fé porque houve aquele primeiro anúncio, porque houve aqueles homens humildes e corajosos que responderam generosamente ao chamado de Jesus".
"Às margens do lago, em uma terra impensável, nasceu a primeira comunidade de discípulos de Cristo. A consciência destes princípios inspire em nós o desejo de levar a palavra, o amor e a ternura de Jesus em todos os contextos, até mesmo ao mais impermeável e resistente. Todos os espaços da vida humana são terreno onde lançar as sementes do Evangelho, para dar frutos de salvação".
Francisco concluiu pedindo que a Virgem Maria nos ajude com a sua intercessão materna a responder com alegria ao chamado de Jesus e nos coloque a serviço do Reino de Deus.
Em seguida concedeu a todos a sua Benção Apostólica. (SP)

sábado, 21 de janeiro de 2017

Vulneráveis e sem voz

“Migrantes de menor idade, vulneráveis e sem voz”: esse o título da Mensagem do Papa Francisco para o 103º Dia Mundial do Migrante e do Refugiado 2017, que nós celebramos no último dia 15 de janeiro. O Papa Francisco nos chama mais uma vez a atenção para o destino das crianças e adolescentes migrantes que estão entre os mais vulneráveis. Os pequenos padecem hoje as novas formas de escravidão como a prostituição, a chaga da pornografia, a exploração no trabalho e o tráfico de droga.

Diante da contínua violação dos direitos das crianças, Francisco opõe um ponto de vista ético muito claro: “encontramos Jesus Cristo nos pequenos e vulneráveis”, e devemos fazer de tudo para proteger a sua dignidade.
Os bispos europeus nos dias passados recordaram que em 2015 mais de 65 milhões de pessoas deixaram suas casas por causa de guerras, perseguições e violências. A metade deste povo de refugiados é constituída de menores. Em particular, o número elevado na Europa de menores refugiados não acompanhados apresenta desafios imensos, especialmente porque muitas crianças e jovens não fazem pedido de asilo. O número real, portanto, é muito mais alto em relação ao indicado pelos dados oficiais. Em 2015 eram mais de 100 mil.
Diante do drama dos refugiados, que já quase estamos acostumados a ver nos telejornais, não podemos permanecer indiferentes. Por traz das pessoas que de barco cruzam o Mediterrâneo, ou a pé pelas fronteiras do leste europeu tentando chegar a Europa, temos histórias de imenso sofrimento: famílias que são separadas, menores que sofreram violências e várias formas de exploração que causam graves feridas no corpo e na alma. Essa realidade não pode deixar o homem moderno, as chamadas sociedades civilizadas, estáticas. É mais do que nunca necessário adotar ações concretas para defender seus direitos e dignidade e ser voz daqueles que não tem voz.
O Pontífice pede que cuidemos das crianças, pois elas são três vezes mais vulneráveis – menores de idade, estrangeiras e indefesas – quando, por vários motivos, são forçadas a viver longe da sua terra natal e separadas do carinho familiar. As crianças migrantes, vulneráveis, invisíveis e sem voz, ressalva Francisco, “acabam facilmente nos níveis mais baixos da degradação humana, onde a ilegalidade e a violência queimam o seu futuro”. Como responder a esta realidade?
O Papa responde: “Com a certeza de que ninguém é estrangeiro na comunidade cristã. A Igreja deve reconhecer o desígnio de Deus também neste fenômeno, que faz parte da história da salvação”. Mas como?   
Em primeiro lugar, garantindo proteção e defesa aos menores migrantes; evitando que as crianças se tornem objeto de violência física, moral e sexual, porque “a linha divisória entre migração e tráfico pode tornar-se às vezes muito sutil”. Por outro lado, há de se combater também a demanda, intervindo com maior rigor e eficácia contra os exploradores.  
Em segundo lugar, é preciso trabalhar pela integração das crianças e adolescentes migrantes. O Papa recorda que a condição dos migrantes menores de idade é ainda mais grave quando ficam em situação irregular ou ao serviço da criminalidade organizada e são destinados a centros de detenção. 
Em terceiro lugar, o Papa apela para que se busquem e adotem soluções duradouras e neste sentido, é necessário o esforço de toda a comunidade internacional para extinguir os conflitos e as violências que constringem as pessoas a fugir.  
Uma questão fundamental, do ponto de vista do Papa, é a adoção de procedimentos nacionais adequados e de planos de cooperação concordados entre os países de origem e de acolhimento, tendo em vista a eliminação das causas da emigração forçada dos menores.
É também indispensável que a opinião pública seja informada de modo correto, para que se previnam medos injustificados e especulações sobre a pele daqueles que emigram, principalmente dos menores. É preciso tomar consciência de que a migração está presente na história do homem, e apostar na proteção, na integração e em soluções duradouras.
Devemos garantir um futuro a quem é obrigado a deixar suas terras em busca de uma vida mais digna. Devemos dar novamente a eles a dignidade perdida. 

Papa abençoa cordeiros na festa de Santa Inês

Na celebração litúrgica de Santa Inês, como é tradição, o Papa Francisco abençoou na Sala da Capela de Urbano VIII, no Vaticano, os dois cordeiros cujas lãs darão origem aos pálios.
Na iconografia, Santa Inês é representada frequentemente com um cordeiro nos braços, símbolo de Jesus, o Cordeiro de Deus, e também porque seu nome vem do latim agnus (cordeiro).
Todos os anos, os padres da Basílica de Santa Inês levam dois cordeiros para o Papa abençoar. Com a lã, as monjas beneditinas do Mosteiro de Santa Cecilia, em Roma, confeccionam o pálio. Depois de prontos, são abençoados pelo Santo Padre e guardados numa arca junto ao tumulo do Apóstolo São Pedro. Serão entregues pelo próprio Papa no dia 29 de junho, na Solenidade de São Pedro e São Paulo, aos novos Arcebispos Metropolitanos.
O pálio é uma estola com seis cruzes bordadas em lã preta. Trata-se de um símbolo de unidade com o Santo Padre e de autoridade sobre a própria jurisdição.

Anunciada data da JMJ do Panamá: 22 a 27 de janeiro de 2019

O Arcebispo de Panamá, no Panamá, Dom José Domingo Ulloa Mendieta anunciou em coletiva de imprensa a data da Jornada Mundial da Juventude de 2019, que se realizará no país centro-americano.
Ao anunciar que a data escolhida é de 22 a 27 de janeiro, o prelado ressalta que para estabelecer a data foram consideradas muitas opções, prevalecendo, sem dúvida, as razões climáticas, acrescentando ainda que o período de verão permite garantir as condições climáticas da região para a realização do evento.
A seguir, propomos, na íntegra, o anúncio feito pelo Arcebispo de Panamá:
“Queremos reiterar nossa gratidão a o Papa Francisco por ter escolhido o Panamá como sede da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) em 2019, com o tema: “Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra”. (Lc 1,38).
Para estabelecer a data da JMJ foram consideradas muitas opções; sem dúvida prevaleceram as razões climáticas. Temos consciência que em alguns países não é período de férias, mas estamos convencidos que isto não será impedimento para que milhares de jovens dos outros continentes possam vir ao Panamá a encontrar-se com Nosso Senhor Jesus Cristo, sob a proteção de Nossa Mãe a Virgem Maria, e com o Sucessor de Pedro.
A data escolhida é de 22 a 27 de janeiro de 2019, período de verão que permite garantir as condições climáticas da região para a realização deste evento mundial da juventude.
Jovens de todos os continentes, vós sois os protagonistas desta Jornada Mundial da Juventude. Sabemos que quando se propõem metas, e especialmente se estas têm a ver com sua fé, vós sois criativos e vos adaptais às realidades, para podê-las alcançar.
Nós vos esperamos em nosso país com o coração e os braços abertos para compartilhar a nossa fé, para sentir-nos Igreja, trazendo cada um sua riqueza étnica e cultural nesta grande festa espiritual, onde mostraremos ao mundo o rosto jovem de uma Igreja Católica em saída, disposta a fazer barulho para anunciar a alegria do Evangelho, aos distantes, aos excluídos, aos que se encontram nas periferias existenciais e geográficas.
Rezamos e trabalharemos para que a Jornada Mundial da Juventude seja oportunidade de um renovado envio para a Igreja Católica e o mundo inteiro.”

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Diplomacia do Vaticano está mais dinâmica com Francisco

Cidade do Vaticano (RV) – A diplomacia do Vaticano está mais dinâmica: foi o que disse o Secretário de Estado, Cardeal Pietro Parolin, nesta quinta-feira (19/01), durante seu discurso em Davos, no 47º Fórum Mundial da Economia.
“A atividade diplomática da Santa Sé aumentou muito, principalmente em razão da personalidade do Papa Francisco: isso é claro. Ele assumiu um papel de grande líder, de guia para os desafios globais presentes. E é reconhecido como um líder global. Quando recebemos no Vaticano as delegações de diversos Estados ou de diversas organizações, normalmente reconhecem este papel. Isso ficou muito claro, por exemplo, na Conferência de Paris sobre as mudanças climáticas. Esta é, portanto, uma das razões pelas quais a diplomacia do Vaticano hoje está mais dinâmica”, declarou o Cardeal.
O Secretário de Estado recordou que o Pontífice, após a sua eleição, delineou três objetivos para a diplomacia do Vaticano: “O primeiro: lutar contra a pobreza. O segundo: construir pontes. Muitas vezes, quando lhe perguntam o que fazer em situações difíceis, de conflito e confronto, ele responde dizendo: ‘diálogo, diálogo, diálogo!’. O terceiro objetivo – explicou o Cardeal – é aquele de alcançar a paz no mundo. E seguindo estas três linhas, procuramos intervir nas situações onde é possível intervir”.

Papa agradece e aprecia mostra sobre história dos Jubileus

Cidade do Vaticano (RV) - O Papa Francisco recebeu na Sala do Consistório, no Vaticano, nesta quinta-feira (19/01), cerca de sessenta organizadores da mostra ‘Antiquorum Habet’ sobre a história dos Jubileus.
Depois de saudar o Presidente do Senado italiano, Pietro Grasso, o Papa manifestou apreço pela mostra sobre a história dos Jubileus, realizada no Senado da República, no ano passado. Este evento “documentou vários aspectos dos Anos Santos, a partir do primeiro, convocado pelo Papa Bonifácio VIII com a Bula Antiquorum habet”. 
“Do ano 1300 em diante, todo Jubileu marcou a história de Roma: da arquitetura ao acolhimento dos peregrinos; da arte às atividades assistenciais e caritativas. Porém, há um elemento essencial, o coração de todo Ano Santo que não deve ser perdido de vista: no Jubileu se encontram a bondade de Deus e a fragilidade do homem, que sempre precisa do amor e do perdão do Pai. É próprio de Deus usar misericórdia e nisso se manifesta a sua onipotência.”
“Em seu discurso, o senhor citou o acolhimento como ponto central de todo Jubileu. Este é o grande acolhimento: Quando Deus nos acolhe, sem perguntar muitas coisas, nos perdoa, nos abraça, nos beija e nos diz carinhosamente: meu filho, minha filha”, disse o Papa ao Presidente Grasso. 
Francisco agradeceu os organizadores, voluntários e o Senado que hospedou a mostra em prol da conscientização histórica e cultural dos visitantes. Pediu a cada um para continuar extraindo da experiência jubilar frutos espirituais abundantes e duradouros.

Francisco: cristãos já estão unidos no serviço aos necessitados

Cidade do Vaticano (RV) – Por ocasião da festa de Santo Henrique, o Papa recebeu no Vaticano uma delegação ecumênica da Finlândia.
Ao agradecer esta tradicional visita, que coincide com a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, o Pontífice renovou seus votos em prol do ecumenismo.

“De fato, afirmou, o verdadeiro ecumenismo se baseia na conversão comum a Jesus Cristo. Se nos aproximamos Dele juntos, também nos aproximaremos uns dos outros.”
Neste caminho ecumênico, Francisco ressaltou um etapa significativa nos campos humano, teológico e espiritual realizada recentemente: sua visita a Lund, na Suécia, em 31 de outubro de 2016, para comemorar o início da Reforma. A intenção de Martinho Lutero 500 anos, ressaltou, era renovar a Igreja e não dividi-la.
Portanto, o encontro em Lund “nos deu a coragem e a força de olhar avante no caminho que somos chamados a percorrer juntos”. Depois de 50 anos de diálogo oficial entre católicos e luteranos, analisou o Papa, “conseguimos expor claramente as perspectivas sobre as quais hoje estamos de acordo. Ao mesmo tempo, mantemos vivo no coração o arrependimento sincero por nossas culpas”.
Para Francisco, este ano comemorativo da Reforma representa para católicos e luteranos uma ocasião privilegiada para viver de maneira mais autêntica a fé, de modo especial reforçando a parceria para amparar os que mais sofrem, quem se encontra em dificuldade e quem está exposto a perseguições e violências. “Ao fazer isto, como cristãos não estamos mais divididos, mas estamos unidos no caminho rumo à plena comunhão.”
Em seu discurso, o Papa mencionou ainda algumas datas significativas para a Finlândia em 2017. Além da Reforma, o país celebra o centenário do Conselho Ecumênico Finlandês e os 100 anos de independência como Estado.
“Que este aniversário possa encorajar todos os cristãos do país a professarem a fé no Senhor Jesus Cristo – como fez com grande zelo Santo Henrique – testemunhando-a hoje diante do mundo e traduzindo-a também em gestos concretos de serviço, de fraternidade e de compartilha”, foram os votos do Pontífice, que concluiu de maneira informal:
“Querido irmão Bispo, gostaria de lhe agradecer pelo bom gosto de ter trazido seus netos. Precisamos da simplicidade das crianças. Elas vão nos ensinar o caminho para Jesus Cristo!” 

Papa: a vida cristã é uma luta contra as tentações

Cidade do Vaticano (RV) - “A vida cristã é uma luta. Deixemo-nos atrair por Jesus”, foi o que disse o Papa Francisco na missa celebrada na Casa Santa Marta, na manhã desta quinta-feira (19/01).  
O Pontífice se deteve na passagem do Evangelho do dia que fala sobre a grande multidão que seguia Jesus com entusiasmo e que vinha de todos os lugares. “Por que vinha essa multidão?”, perguntou o Papa. O Evangelho nos diz que havia “doentes que queriam ser curados”. Mas havia também pessoas que gostavam de “ouvir Jesus, porque falava não como os seus doutores, mas com autoridade” e “isso tocava o coração”. Essa multidão “vinha espontaneamente. Não era levada de ônibus, como vemos muitas vezes quando se organizam manifestações e muitos devem verificar a presença para não perder o trabalho”. 
O Pai atrai as pessoas a Jesus
Essas pessoas iam porque sentiam alguma coisa a ponto de Jesus pedir um barco e ir um pouco distante da margem: 
“Esta multidão ia até Jesus? Sim! Precisava? Sim! Alguns eram curiosos, mas esses eram os céticos, a minoria. Esta multidão era atraída pelo Pai: era o Pai que atraia as pessoas a Jesus a tal ponto que Jesus não ficava indiferente, como um mestre estático que dizia as suas palavras e depois lavava as mãos. Não! Esta multidão tocava o coração de Jesus. O Evangelho nos diz: Jesus se comoveu, porque via essas pessoas como ovelhas sem pastor. O Pai, através do Espírito Santo, atraia as pessoas a Jesus.”
O Papa disse que não sãos os argumentos que movem as pessoas, não são “os assuntos apologéticos”. “Não”, frisou, “é necessário que o Pai nos atraia a Jesus”. 
A vida cristã é uma luta contra as tentações
Por outro lado, é “curioso” que este trecho do Evangelho de Marcos, que “fala de Jesus, da multidão, do entusiasmo” e do amor do Senhor, acabe com os espíritos impuros, que quando O viam, gritavam: “Tu és o Filho de Deus!”:
“Esta é a verdade; esta é a realidade que cada um de nós sente quando Jesus se aproxima. Os espíritos impuros tentam impedi-lo, nos fazem guerra. ‘Mas, Padre, eu sou muito católico; sempre vou à missa… Mas jamais, jamais tenho essas tentações. Graças a Deus!’ – ‘Não! Reze, porque você está no caminho errado!’. Uma vida cristã sem tentações não é cristã: é ideológica, é gnóstica, mas não é cristã. Quando o Pai atrai as pessoas a Jesus, há outro que atrai de modo contrário e provoca a guerra interior! E por isso Paulo fala da vida cristã como uma luta: uma luta de todos os dias. Uma luta!”
Uma luta, retomou, “para vencer, para destruir o império de satanás, o império do mal”. E por isso, disse, “Jesus veio para destruir, para destruir satanás! Para destruir a sua influência nos nossos corações”. O Pai, retomou, “atrai as pessoas a Jesus”, enquanto “o espírito do mal tenta destruir, sempre!”. 
Estamos lutando contra o mal?
A vida cristã, disse ainda o Papa, “é uma luta assim: ou você se deixa atrair por Jesus, para o Padre, ou pode dizer ‘eu fico tranquilo, em paz’”. Se quiser ir avante, “é preciso lutar!”, exortou o Papa. Sentir o coração que luta, para que Jesus vença”:
“Pensemos em como está o nosso coração: eu sinto esta luta no meu coração? Entre a comodidade ou o serviço aos outros, entre o divertir-me um pouco ou rezar e adorar o Pai, entre uma coisa e outra, sinto a luta? A vontade de fazer o bem ou algo me detém, me torna ascético? Eu acredito que a minha vida comova o coração de Jesus? Se eu não acredito nisto, devo rezar muito para acreditar, para que me seja concedida esta graça. Que cada um de nós busque no seu coração como está esta situação ali. E peçamos ao Senhor para sermos cristãos que saibam discernir o que acontece no próprio coração e escolher bem o caminho pelo qual o Pai nos atrai a Jesus”.

Papa: cristãos devem superar mentalidade egoísta

Cidade do Vaticano (RV) – Vencer a mentalidade egoísta dos doutores da lei, que condena sempre. Esta é a advertência de Francisco na Missa matutina na Casa Santa Marta (20/01).
Inspirando-se na Primeira Leitura, extraída da Carta aos Hebreus, o Papa destacou que a nova aliança que Deus faz conosco em Jesus Cristo nos renova o coração e nos muda a mentalidade.
Deus renova tudo “na raiz, não somente na aparência”, disse o Papa, afirmando que esta nova aliança tem as suas características. A primeira: “a lei do Senhor não é um modo de agir externo”, entra no coração e “nos muda a mentalidade”. Na nova aliança, afirmou, “há uma mudança de mentalidade, há uma mudança de coração, uma mudança no sentir, no modo de agir”, “um modo diferente de ver as coisas”.
Superar e mentalidade egoísta
Francisco cita como exemplo uma obra à qual um arquiteto pode olhar com frieza, com inveja ou, pelo contrário, com uma atitude de alegria e “benevolência”:
“A nova aliança nos muda o coração e nos faz ver a lei do Senhor com este novo coração, com esta nova mente. Pensemos nos doutores da lei que perseguiam Jesus. Eles faziam tudo, tudo o que estava prescrito pela lei, tinham o direito em mãos, tudo, tudo, tudo. Mas sua mentalidade era uma mentalidade distante de Deus. Era uma mentalidade egoísta, centrada sobre si mesmos: o coração deles era um coração que condenava, sempre condenando. A nova aliança nos muda o coração e nos muda a mente. Há uma mudança de mentalidade”.
Deus perdoa os nossos pecados; a nova aliança muda a nossa vida
O Senhor, acrescentou o Papa, vai avante e nos garante que perdoará as iniquidades e não se recordará mais dos nossos pecados. Às vezes, comentou, “gosto de pensar, brincando um pouco com Deus: “O Senhor não tem boa memória”... É a fraqueza de Deus, explicou, que, quando perdoa, esquece:
“Ele esquece porque perdoa. Diante de um coração arrependido, ele perdoa e esquece: ‘Eu esquecerei e não lembrarei dos seus pecados’. Este também é um convite a não levar o Senhor a lembrar dos pecados, ou seja, não pecar mais. O Senhor me perdoou, esqueceu, mas eu tenho uma dívida com o Senhor... mudança de vida. A Nova Aliança me renova e me faz mudar de vida; não mudar apenas a mentalidade e o coração, mas a vida. Logo, viver sem pecado, distante do pecado. Eis a verdadeira recriação do Senhor”.
Enfim,  o Papa voltou a atenção ao terceiro ponto, a “mudança de pertença”. “Nós pertencemos a Deus, os outros deuses não existem”, “são bobeiras”.  
O Senhor muda o nosso coração para mudar a nossa mentalidade
“Mudança de mentalidade, mudança de coração, mudança de vida e mudança de pertença”. “Esta é a recriação que o Senhor faz melhor que a primeira criação”. “Peçamos ao Senhor para ir adiante nesta aliança de ser fiéis”, disse o Papa acrescentando:
“O sigilo desta aliança, desta fidelidade. Ser fiel a este trabalho que o Senhor faz para mudar a nossa mentalidade, mudar o nosso coração. Os profetas diziam: ‘O Senhor transformará o seu coração de pedra em coração de carne’. Mudar o coração, mudar a vida, não pecar mais ou não fazer o Senhor se lembrar do que já tinha se esquecido em relação aos nossos pecados de hoje e mudar de pertença: nunca pertencer à mundanidade, ao espírito do mundo, às coisas efêmeras do mundo, mas somente ao Senhor”.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Voltar à autenticidade dos textos conciliares

Cidade do Vaticano (RV) -  No nosso espaço Memória histórica - 50 anos do Concílio Vaticano II, vamos tratar no programa de hoje sobre a importância de voltar à autenticidade dos textos conciliares.
As mudanças sociais e culturais no século XX e XXI, assim como a velocidade com que acontecem, apresentam um desafio para a Igreja e sua Missão no mundo. Se por um lado surgem vozes que defendem a realização de um novo Concílio, por outro, a maioria defende a total concretização das decisões do Concílio Vaticano II, ainda não implementadas.
Neste sentido, retornar aos Documentos conciliares é de particular atualidade: eles nos proporcionam instrumentos exatos para enfrentar os problemas de hoje. Somos chamados a reconstruir a Igreja, não apesar do, mas graças ao Concilio Vaticano II. Padre Gerson Schmidt:
"Quando havia passado 10 nos do Concilio Vaticano II, o Cardeal Ratzinger fazia a seguinte declaração: “Em primeiro lugar, é impossível para um católico tomar posição a favor do Concílio Vaticano II contra Trento e o Vaticano I. Quem aceita o Vaticano II, assim como ele se expressou claramente na letra, e entendeu-lhe o espírito, afirma ao mesmo tempo a ininterrupta tradição da Igreja, em particular os dois Concílios precedentes. E isso deve valer para o chamado ‘progressismo’, pelo menos em suas formas extremas.
Segundo: do mesmo modo é impossível decidir-se por Trento e do Vaticano I contra o Vaticano II. Quem nega o Vaticano II nega a autoridade que sustenta os dois Concílios, e, dessa forma, os separa de seu fundamento. E isso deve valer para o chamado ‘tradicionalismo’, também em suas formas extremas. Perante o Concílio Vaticano II, qualquer opção parcial destrói o todo, a própria história da Igreja, que só pode subsistir como uma unidade indivisível”.
No resgate histórico que aqui fazemos é importante termos presente o Sínodo de 1985, que teve também por objetivo a revisão do Concilio Vaticano II, passados então 20 anos. Esse sínodo fez um balanço do Concílio. João Paulo II teve três objetivos em 85, quando realizou o Sínodo dos bispos: queria, reviver, de alguma maneira a atmosfera de comunhão eclesial do Concilio; em segundo lugar, de troca de experiências sobre a aplicação do Concilio; e em terceiro lugar, favorecer um posterior aprofundamento do Concílio na vida da Igreja.
Segundo o Papa Bento XVI, enquanto ainda Cardeal, nos 20 anos pós-Concílio houve mais mudanças na Igreja do que dois séculos. Fez uma crítica de que devido a algumas más interpretações do Concílio se passou de uma atitude autocrítica para autodestruição, usando também palavras de Paulo VI.
Nesse contexto, o Cardeal Julius Döfner dizia que a Igreja pós-conciliar é uma grande obra de construção. Mas o espírito crítico acrescentou que é uma obra de construção onde se perdeu o projeto e cada um continua a fabricar de acordo com o seu próprio gosto¹ .
Por isso esses teólogos fazem um apelo a voltar aos autênticos textos do Concílio, o que aqui nesse espaço estamos procurando fazer para não deturpar a autêntica inspiração dos Padres conciliares. O Cardeal Ratzinger chegou a afirmar anos atrás, ainda antes de ser Papa: “é ao hoje da Igreja que devemos permanecer fiéis, não ao ontem, nem ao amanhã. E esse hoje da Igreja são os Documentos do Vaticano II em sua autenticidade. Sem reservas que os amputem. E sem arbítrios que os desfigurem”² .
Disse ainda mais, fazendo um diagnóstico pós-conciliar que estamos hoje descobrindo a função profética do Concílio. Palavras literais do Cardeal Ratzinger: “Alguns textos do Vaticano II pareciam adiantar-se aos tempos então vividos. Vieram a seguir revoluções culturais e terremotos sociais que os Padres conciliares nem podiam prever, mas que demonstravam como aquelas respostas – então antecipadas – eram as que, a seguir, se fariam necessárias. Portanto, retornar aos documentos é de particular atualidade: eles nos proporcionam instrumentos exatos para enfrentar os problemas de hoje. Somos chamados a reconstruir a Igreja, não apesar do, mas graças ao Concilio Vaticano II”³ .
Como Papa Bento XVI, em 10 de outubro de 2012, na tradicional Audiência Geral das quartas-feiras ,afirmou que os documentos do Concílio Vaticano II são "uma bússola que permitem que a nave da Igreja navegue em mar aberto, em meio a tempestades ou na calma com a certeza de chegar à meta". E ainda recordou que ele também participou como perito no Concílio, quando era professor de teologia fundamental da universidade de Bonn (Alemanha).  Ali, recordou assim: "pude ver uma Igreja viva – quase três mil Padres conciliares de todas as partes do mundo reunidos sob a orientação do Sucessor do Apóstolo Pedro – que se coloca na escola do Espírito Santo, o verdadeiro motor do Concílio".Recordou que a intenção da assembleia conciliar iniciada a 11 de outubro de 1962 era, para o Papa, “delinear de um modo novo a relação da Igreja com a idade moderna” (4) .
Bento repetia a mesma expressão utiliza já por João Paulo II ao término do Grande Jubileu do ano 2000, quando disse assim a respeito do Concílio: "À medida que passam os anos, aqueles textos não perdem o seu valor nem a sua beleza. É necessário fazê-los ler de forma tal que possam ser conhecidos e assimilados como textos qualificados e normativos do Magistério, no âmbito da tradição da Igreja. Concluído o Jubileu, sinto ainda mais intensamente o dever de indicar o Concílio como a grande graça de que se beneficiou a Igreja no século XX: nele se encontra uma bússola segura para nos orientar no caminho do século que começa" (Novo millennio ineunte, 57).
________________
1 RATZINGER, J. / v.MESSORI. A fé em crise? O Cardeal Ratzinger se interroga, E.P.U., SP, 1985, p.17.
2 Idem, 18.
3 Idem,21.
4 http://www.agencia.ecclesia.pt/noticias/vaticano/vaticano-ii-concilio-e-bussola-da-igreja/