domingo, 22 de novembro de 2015

Angelus: o amor é a força do reino de Cristo

Angelus: o amor é a força do reino de Cristo

Cidade do Vaticano (RV) – Milhares de fiéis rezaram com o Papa Francisco o Angelus este domingo de sol e frio na capital italiana.

Na Praça S. Pedro, antes da oração mariana, o Papa recordou a solenidade de Cristo Rei do Universo. O Evangelho, disse Francisco, nos faz contemplar Jesus enquanto se apresenta a Pilatos como rei de um reino que “não é deste mundo”.

“Isto não significa que Cristo seja rei de outro mundo, mas que é rei de outro modo, mas é rei neste mundo”, explicou, acrescentando que se trata de uma contraposição entre duas lógicas. A lógica mundana se fundamenta na ambição e na competição, combate com as armas do medo, da chantagem e da manipulação das consciências. A  lógica evangélica, ao invés, se expressa na humildade e na gratuidade, se afirma silenciosa, mas eficazmente com a força da verdade.

Na falência, o amor

Mas é na Cruz que Jesus se revela rei: “Mas alguém pode dizer: ‘Padre, isto foi uma falência'. Mas é justamente na falência do pecado, das ambições humanas, que está o triunfo da Cruz, da gratuidade do amor. Na falência da Cruz se vê o amor.”

Falar de potência e de força para o cristão, disse o Papa, significa fazer referência à potência da Cruz e à força do amor de Jesus. Se Ele tivesse descido da Cruz, teria cedido à tentação do príncipe deste mundo; ao invés, Ele não salva a si mesmo para poder salvar os outros.

"Dizer que Jesus deu a vida pelo mundo é verdadeiro, mas é mais bonito dizer que Jesus deu a sua vida por mim”, afirmou Francisco, que pediu a todos na Praça que repetissem essas palavras em seus corações.

Bom ladrão

No Calvário, quem entende a atitude de Cristo é o bom ladrão, um dos malfeitores crucificados com Ele, que suplica: “Jesus, lembra-te de mim quando vieres com teu reino”.

“A força do reino de Cristo é o amor: por isto a realeza de Jesus não nos oprime, mas nos liberta das nossas fraquezas e misérias, encorajando-nos a percorrer os caminhos do bem, da reconciliação e do perdão.” E mais uma vez o Papa pediu a participação dos peregrinos, convidando-os a repetirem as palavras do bom ladrão quando nos sentirmos fracos, pecadores e derrotados.

E concluiu: “Diante de tantas dilacerações no mundo e das demasiadas feridas na carne dos homens, peçamos a Nossa Senhora que nos ampare no nosso esforço para imitar Jesus, nosso rei, tornando presente o seu reino com gestos de ternura, de compreensão e de misericórdia.”

Francisco pede orações por sua viagem à África

Francisco pede orações por sua viagem à África

Cidade do Vaticano (RV) – Ao final do Angelus deste domingo (22/11), o Papa pediu orações aos fiéis e peregrinos na Praça S. Pedro, por sua iminente viagem à África:

“Quarta-feira que vem, inicio a viagem à África, visitando Quênia, Uganda e a República Centro-Africana. Peço a todos vocês que rezem por esta viagem, para que seja para todos esses queridos irmãos, e também para mim, um sinal de proximidade e de amor. Peçamos juntos a Nossa Snehora que abençoe essas terras queridas, para que haja paz e prosperidade”, disse o Papa, que rezou com os peregrinos uma Ave-Maria.

Rádio Vaticano

O Programa Brasileiro prepara uma programação especial para a 11ª Viagem Apostólica do Papa. Serão 19 transmissões ao vivo, com comentários em português.

Em Nairóbi, entre as principais atividades, Francisco vai conhecer a realidade das favelas da capital queniana e falar aos jovens no estádio da cidade. Também visitará a sede da ONU no país.

Em Uganda, destaque para a visita aos santuários dos mártires católicos e anglicanos e para o encontro com os jovens na capital Campala. Em Bangui, Francisco conhecerá um campo de refugiados antes de presidir à missa de encerramento da viagem com abertura da Porta Santa.

Barcelona

Ainda após o Angelus, o Papa recordou a beatificação ocorrida no sábado, em Barcelona, de Ferderico de Berga e 25 companheiros mártires, capuchinhos, assassinados na Espanha durante a feroz perseguição contra a Igreja no século passado.

“Confiemos a intercessão deles os nossos muitos irmãos e irmãs que, infelizmente ainda hoje, em várias partes do mundo, são perseguidos por causa da fé em Cristo.”

Papa condena violência "cega" no Mali

Papa condena violência "cega" no Mali

Cidade do Vaticano (RV) – “Violência cega”: assim o Papa definiu o atentado num hotel em Bamaco, no Mali, que na sexta-feira (20/11) matou 21 pessoas, entre as quais dois terroristas.

Num telegrama assinado pelo Secretário de Estado, Card. Pietro Parolin, o Pontífice se une em oração à dor das famílias em luto e à tristeza dos malianos. Francisco confia todas as vítimas à misericórdia de Deus, implorando Dele conforto e consolação aos feridos.

“Consternado com esta violência cega, que condena veementemente, o Papa pede a Deus a conversão dos corações e o dom da paz”, lê-se no texto, endereçado ao Arcebispo de Bamaco, Dom Jean Zerbo.

No atentado, 19 estrangeiros morreram e sete ficaram feridos no hotel Radisson Blu. O grupo responsável pelo ataque é Murabitun, antigamente ligado a Al Qaeda. O Chefe de Estado, Ibrahim Boubacar Keita, decretou estado de emergência em todo o país por dez dias e três dias de luto nacional.

Papa: escola deve ensinar valores, não só conceitos

Papa: escola deve ensinar valores, não só conceitos

Cidade do Vaticano (RV) – Milhares de educadores e estudantes de todo o mundo se reuniram com o Papa Francisco na manhã de sábado (21/11) na Sala Paulo VI, no Vaticano, no encerramento do Congresso Mundial promovido pela Congregação para a Educação Católica.

A modalidade do encontro foi de testemunhos e perguntas feitas por estudantes e professores e respostas por parte do Pontífice, que não tinha um discurso pronto. Para Francisco, não se pode falar de educação católica sem falar de humanisno.

Transcendência

“Educar de modo cristão não é fazer uma catequese, proselitismo, é levar avante os jovens e as criaças nos valores humanos em toda a realidade. E uma dessas realidades é a transcendência”, disse o Papa, que considera o fechamento à transcendência a maior crise educacional.

O Pontífice lamentou a educação seletiva e elitista. “Parece que têm direito à educação os povos que tem certo nível, certa capacidade. Mas certamente não têm direito à educação todas as crianças. Esta é uma realidade mundial que nos envergonha, que nos leva rumo a uma seletividade humana que, ao invés de aproximar os povos, os afasta. Afasta os ricos dos pobres, uma cultura de outra.”

O Papa falou ainda do fenômeno da exclusão, que leva à ruptura do pacto educativo entre a família e a escola, entre a família e o Estado. “Os trabalhadores mais mal pagos são os educadores. Isso significa que o Estado não tem interesse”, criticou.

Um grande pensador brasileiro

Para ele, o trabalho do educador é buscar novos caminhos na educação informal, como as artes e os desportos. E o Papa chamou em causa os brasileiros, citando implicitamente Paulo Freire:

“Um grande educador brasileiro dizia que na escola formal devia-se evitar cair somente num ensino de conceitos. A verdadeira escola deve ensinar conceitos, hábitos e valores. Quando uma escola não é capaz de fazer isso, esta escola é seletiva, exclusiva e para poucos”, disse Francisco, acrescentando que o critério de seleção puramente racional tem como base “o fantasma do dinheiro”.

Quanto à figura do educador, o Pontífice considera que este deve saber arriscar; caso contrário, não pode educar.

“Arriscar significa ensinar a caminhar, ensinar que uma perna deve estar firme e, a outra, deve tentar avançar. Educar é isto. O verdadeiro educador deve ser mestre de risco, mas de risco consciente.”

Periferias

Francisco falou ainda da necessidade de ir às periferias. No campo educativo, afirmou, significa acompanhar os alunos no crescimento, não somente fazer beneficência e dar de comer e ensinar a ler. Significa segurar pelas mãos e caminhar juntos, fazer com que os jovens de periferia, feridos em sua humanidade, “cresçam em humanidade, em inteligência, em valores e em hábitos”.

“A maior falência de um educador é educar ‘dentro dos muros’: muros de uma cultura seletiva, muros de uma cultura de segurança, os muros de um setor social elevado.”

Por fim, o Papa deu como “lição de casa” aos presentes que repensem as obras de misericórdia na educação.  “Como posso fazer para que este Amor do Pai, que é especialmente ressaltado neste Ano da Misericórdia, chegue às nossas obras educativas?”

O Pontífice concluiu agradecendo aos educadores “mal pagos” por tudo o que fazem, encorajando-os a prosseguirem. “Devemos reeducar tantas civilizações!”

Francisco: onde está Jesus não há lugar para a corrupção

Francisco: onde está Jesus não há lugar para a corrupção

Cidade do Vaticano (RV) – O Papa celebrou a missa na manhã desta sexta-feira (20/11), na Casa Santa Marta.

A sua homilia partiu da primeira leitura extraída do Livro dos Macabeus, que narra a alegria do povo pela reconsagração do Templo profanado pelos pagãos e pelo espírito mundano.

O Papa comentou a vitória dos que foram perseguidos pelo pensamento único. O povo de Deus festeja, porque reencontra “a própria identidade”. “A festa – explica – é algo que a mundanidade não sabe fazer, não pode fazer! O espírito mundano nos leva, no máximo, a nos divertir um pouco, a fazer um pouco de barulho, mas a alegria vem somente da fidelidade à Aliança”. No Evangelho, Jesus expulsa os mercantes do Templo, dizendo: “Está escrito: a minha casa será casa de oração. Vocês, ao invés, fizeram um covil de ladrões”. Assim como durante a época dos Macabeus o espírito mundano “tinha tomado o lugar da adoração ao Deus Vivo”. Agora, isso acontece de outra maneira:

“Os chefes do Templo, os chefes dos sacerdotes – diz o Evangelho – e os escribas tinham mudado um pouco as coisas. Entraram num processo de degradação e tornaram o Templo ‘sujo’. Sujaram o Templo! O Templo é um ícone da Igreja. A Igreja sempre – sempre! – sofrerá a tentação da mundanidade e a tentação de um poder que não é poder que Jesus Cristo quer para ela! Jesus não diz: ‘Não, isso não se faz. Façam fora’. Diz: ‘Vocês fizeram um covil de ladrões aqui!’. E quando a Igreja entra neste processo de degradação, o fim é muito feio. Muito feio!”.

É o perigo da corrupção:

“Sempre há na Igreja a tentação da corrupção. É quando a Igreja, em vez de ser apegada à fidelidade ao Senhor Jesus, ao Senhor da paz, da alegria, da salvação, quando em vez de fazer isto, é apegada ao dinheiro e ao poder. Isso acontece aqui, neste Evangelho. Estes são os chefes dos sacerdotes, estes escribas eram apegados ao dinheiro, ao poder e esqueceram o espírito. E para se justificarem e dizer que eram justos, que eram bons, trocaram o espírito de liberdade do Senhor pela rigidez. E Jesus, no capítulo 23 de Mateus, fala desta rigidez. As pessoas tinham perdido o sentido de Deus, assim como a capacidade de ser alegres, também a capacidade de louvar: não sabiam louvar a Deus, porque eram apegadas ao dinheiro e ao poder, a uma forma de mundanidade, como o outro no Antigo Testamento”.

Escribas e sacerdotes ficam com raiva de Jesus:

“Jesus não expulsava do Templo os sacerdotes, os escribas; expulsava estes que faziam negócios, os mercantes do Templo. Mas os chefes dos sacerdotes e dos escribas tinham ligações com eles: havia a ‘santa propina’ lá! Recebiam deles, eram apegados ao dinheiro e veneravam esta 'santa'. O Evangelho é muito forte. Diz: ‘os chefes dos sacerdotes e os escribas tentavam matar Jesus e assim também os chefes do povo’. A mesma coisa que acontecera nos tempos de Judas o Macabeu. E por que? Por este motivo: ‘Mas não sabiam o que fazer porque todo o povo seguia suas palavras’. A força de Jesus era a sua palavra, o seu testemunho, o seu amor. E onde está Jesus, não há lugar para a mundanidade, não há lugar para a corrupção! E esta é a luta de cada um de nós, esta é a luta quotidiana da Igreja: sempre Jesus, sempre com Jesus, sempre seguindo suas palavras; e jamais procurar seguranças onde existem outras coisas e um outro patrão. Jesus nos havia dito que não se pode servir a dois patrões: ou Deus o as riquezas; ou Deus ou o poder”.

“Nos fará bem – concluiu o Papa – rezar pela Igreja. Pensar aos tantos mártires de hoje que, para não entrar neste espírito de mundanidade, de pensamento único, de apostasia, sofrem e morrem. Hoje! Hoje existem mais mártires na Igreja que nos primeiros dias. Pensemos. Nos fará bem pensar a eles. E também pedir a graça de jamais, jamais entrar neste processo de degrado em direção à mundanidade que nos leva ao apego ao dinheiro e ao poder”.

Parolin: do Papa na África o apelo juntos pela paz

Parolin: do Papa na África o apelo juntos pela paz

Cidade do Vaticano (RV) - Muita expectativa pela primeira viagem do Papa Francisco à África. O pontífice visitará, de 25 a 30 de novembro, Quênia, Uganda e República Centro-Africana.

Sobre este evento importante o Centro Televisivo Vaticano entrevistou o Secretário de Estado, Cardeal Pietro Parolin.

Eminência, o Papa iniciará sua viagem à África pelo Quênia onde, em abril passado, 147 estudantes foram mortos por fundamentalistas islâmicos, assim como os jovens trucidados em Paris. Fará um novo apelo aos fieis de todas as religiões?

Cardeal Parolin: “Sim. Acredito que o Papa terá em sua mente e em seu coração as imagens tristes dos 147 estudantes mortos no Quênia e das pessoas, sobretudo jovens, trucidadas em Paris. Esta será uma ocasião para renovar o apelo que o Papa continuamente faz, aos pertencentes a todas as religiões, a não usar o nome de Deus para justificar a violência. Ele disse no Angelus do último domingo que isso é blasfêmia. Portanto, não é absolutamente louvar a Deus, mas ofender de maneira grave o nome de Deus e seu amor por nós e o próprio Deus. O apelo a fazer das religiões aquilo que as religiões são e devem ser, ou seja, promotoras do bem, da reconciliação, da paz, da fraternidade no mundo de hoje dilacerado por tantos conflitos. Hoje, as religiões devem encontrar a maneira de trabalhar juntas, de colaborar juntas para ajudar a humanidade a se tornar cada vez mais fraterna e solidária. Isso através, sobretudo, do diálogo inter-religioso. Para mim estes serão os pontos que o Papa irá sublinhar também nesta etapa de sua visita.”

O Papa Francisco visitará pela primeira vez o continente africano que é ainda considerado periferia do Planeta. Podemos esperar que retome os temas da Encíclica ‘Laudato si’ e do discurso na Onu sobre a defesa do meio ambiente e a luta contra a exclusão social e econômica?

Cardeal Parolin: “Sim, certamente. Sabemos que o Papa tem em seu coração esses temas e como tais temas, que fazem parte do ensinamento tradicional da Doutrina Social da Igreja, pelo menos a partir de Leão XIII e depois aplicados nas várias situações que se apresentaram, terão uma repercussão particular no continente africano por aquelas razões que você dizia. Portanto existirá uma mensagem forte neste sentido. De luta contra a pobreza, contra a exclusão. De garantir a cada um de seus componentes uma vida digna, uma vida que respeite a dignidade de seres humanos e filhos de Deus das populações africanas. Terá também a ocasião de retomar esses temas porque em Nairóbi existem duas organizações das Nações Unidas que se interessam por esses problemas, o Programa das Nações Unidas para o Ambiente (Unep) e a Onu habitat. Depois estamos nas vésperas de dois eventos importantes. Primeiramente, a Conferência de Paris sobre mudanças climáticas que terá início no final da viagem do Papa, e a décima conferência ministerial da organização mundial do comércio que se realizará em Nairóbi nos dias após a visita do Papa. Também estas circunstâncias caminham no sentido de uma busca de critérios éticos para governar a economia de maneira équa, de modo tal que os benefícios desta economia possam chegar a todos e a cada um.”

Na República Centro-Africana, o Papa abrirá a Porta Santa do Jubileu da Misericórdia. Um gesto que dá força à sua mensagem de paz e reconciliação para o país e a todo o continente?

Cardeal Parolin: “A República Centro-Africana precisa de paz e misericórdia. É um gesto muito bonito o que o Papa fará antecipando a abertura da Porta Santa para a Igreja universal, em 8 de dezembro, na Basílica de São Pedro. Um gesto para manifestar misericórdia, manifestar proximidade a uma população que sofre por uma situação endêmica de pobreza e precariedade que piorou por causa do conflito recente. Por este conflito que ainda perdura e este clima de violência e hostilidade que ainda está presente no país. Além de ser uma manifestação de proximidade será também um gesto para curar as feridas, um incentivo a superar as divisões em nome do respeito e da aceitação recíproca a fim de que os grupos que agora se enfrentam possam encontrar as razões para trabalhar juntos em beneficio do bem comum do país. Esta será uma grande mensagem, uma mensagem mais uma vez de diálogo, aceitação do outro, compreensão de suas razões, colaboração em vista de um bem maior. Acredito que esta mensagem de encorajamento o Papa se dirigirá também a todos aqueles que buscam ajudar o povo centro-africano a superar este momento de crise. Falo das organizações não governamentais, falo também de vários organismos da comunidade internacional. Um encorajamento a ir adiante nesta obra de apoio, não obstante todas as dificuldades e os obstáculos que podem ser encontrados.”

Em Uganda, o Papa fará uma homenagem aos santos mártires canonizados 50 anos atrás. Passados mais de um século de morte, o seu testemunho de fé fala ainda à África e ao mundo de hoje?

Cardeal Parolin: “Certamente. Fala ainda e com voz eloquente. Basta pensar no que Paulo VI disse no momento da canonização desses mártires, ressaltando a qualidade de sua fé e as consequências de sua fé. Nos diz que para os valores profundos, que para nós cristãos são a pessoa de Jesus Cristo, estão dispostos a dar a vida e não somente para as coisas efêmeras ou pela busca de bens passageiros, o bem-estar somente material. Existem algumas realidades para as quais se devem estar dispostos a dar a vida. Ao mesmo tampo nos dizem que a fé pode se tornar realmente a semente, o germe, início de um humanismo mais pleno e integral, e que a fé se torna também uma motivo a mais, um impulso a mais para construir uma sociedade fraterna, uma sociedade pacífica, uma sociedade solidária e para buscar realmente o bem de todos.” (MJ)

Viagem à África e ano jubilar - A resposta de Francisco

Viagem à África e ano jubilar - A resposta de Francisco

Há um dado dramático, entre todos aqueles que foram difundidos nestes dias, depois dos atentados desumanos de Paris. Um dado que merece uma profunda atenção, porque atribui à iminente viagem do Papa à África um significado extremamente importante: durante o ano de 2014, no mundo inteiro foram perpetrados mais de 13.000 ataques terroristas, provocando mais de 32.000 mortes. Foi o pior anos desde 2001. E os lugares onde mais se concentrou este buraco negro de violência e horror foram a Ásia e a África. Em particular na Nigéria, segundo um estudo do Global Terrorism Index, age o grupo subversivo mais perigoso, Boko Haram, que já causou a morte de mais de 6.600 pessoas.



A partes destas estatísticas concisas e cruas, já se pode entender a centralidade absoluta da viagem de Francisco neste trágico momento da história. Pelo menos por três motivos.

Em primeiro lugar, porque esta «guerra mundial por etapas», evocada profeticamente por Francisco desde o início do seu pontificado, já se configura com verdadeira guerra contra a humanidade: uma humanidade inocente, culpada unicamente de habitar os lugares dos atentados. Esta loucura terrorista, este delírio que aniquila homens e mulheres inermes com a presunção de se inspirar num deus todo-poderoso, não pode ter qualquer forma de justificação social, cultural, religiosa e política.

Depois, porque se trata de uma guerra de novo tipo, quase uma «guerra líquida», onde o terror e a morte eclodem de repente, sem campos de batalha definidos e com exércitos que se fazem e desfazem de maneira inesperada, como se fossem aparentemente invisíveis. Mas nada é invisível aos olhos sábios de Deus. E o seu juízo incontestávelsobre os homens terá como base a capacidade que cada pessoa tem de gerar amor, e certamente não a sinistra habilidade de difundir ódio e morte.

Em terceiro lugar, porque a viagem do Papa à África — não obstante tenha sido preparada e organizada muito antes dos atentados de Paris — se apresenta como uma resposta sábia a esta violência cega e sanguinária que, há demasiado tempo, atinge o mundo inteiro. Uma resposta que poderia ser resumida com três palavras: diálogo, periferias e misericórdia.

O diálogo inter-religioso e ecuménico com que terá início e acabará a viagem representa o modo concreto de experimentar o amor e de rejeitar o ódio. Os muros de separação são substituídos por lugares de escuta; as dificuldades de compreensão, por pontes de amizade e de encontro.

Quanto às periferias, são um dos grandes temas deste pontificado. E, sem dúvida, a África é a maior periferia do mundo moderno. Uma periferia onde, ao lado de misérias indescritíveis e de guerras fratricidas, reside a esperança típica dos povos jovens, que vivem a fé de modo genuíno e integral, como a viúva da parábola que, no tesouro do templo, lança tudo o que possui.

E finalmente a misericórdia. O ano jubilar terá início na África. Um ano que se apresenta como um kairós, ou seja, como uma oportunidade inestimável. Uma ocasião para mudar de rota, para inverter as estatísticas de morte e para percorrer o caminho indicado por Pedro: o da conversão pastoral.

Papa: a Igreja não seja apegada ao poder mas à Palavra de Jesus

Papa: a Igreja não seja apegada ao poder mas à Palavra de Jesus

Sexta-feira, 20 de novembro – na Missa em Santa Marta o Papa Francisco exortou os cristãos a não serem apegados ao dinheiro ao poder. O Santo Padre recordou que Jesus expulsou do templo os vendedores.

Na sua homilia o Papa Francisco partiu da leitura do Livro dos Macabeus que narra a alegria do povo pela reconsagração do Templo profanado pelos pagãos e pelo espírito mundano. O povo festejava porque tinha reencontrado a sua “própria identidade” – disse o Papa – que é algo que a mundanidade não sabe fazer. Pode fazer um pouco de barulho, divertir-se, mas não com aquela alegria que vem da fidelidade à Aliança com Deus.

Entretanto, no Evangelho do dia, S. Lucas narra-nos o episódio em que Jesus expulsa os vendedores do Templo. A este propósito o Papa afirmou que o Templo estava sujo porque era um covil de ladrões:

“Sempre há na Igreja a tentação da corrupção. É quando a Igreja, em vez de ser apegada à fidelidade ao Senhor Jesus, ao Senhor da paz, da alegria, da salvação, quando em vez de fazer isto, é apegada ao dinheiro e ao poder. Isso acontece aqui, neste Evangelho. Estes são os chefes dos sacerdotes, estes escribas eram apegados ao dinheiro, ao poder e esqueceram o espírito. E para se justificarem e dizer que eram justos, que eram bons, trocaram o espírito de liberdade do Senhor pela rigidez. E Jesus, no capítulo 23 de Mateus, fala desta rigidez.”

“Jesus não expulsava do Templo os sacerdotes e os escribas” – explicou o Papa – mas sim os vendedores, aqueles que faziam negócios. Mas uns estavam ligados aos outros pois eram pagas ‘comissões’ por tal comércio no Templo. Os sacerdotes e os escribas estavam apegados ao dinheiro e ao poder e por isso tentavam matar Jesus – frisou o Santo Padre – pois a força de Jesus era a sua palavra, o seu testemunho, o seu amor.

Na conclusão da sua homilia o Papa Francisco afirmou que onde está Jesus, não há lugar para a mundanidade, não há lugar para a corrupção! “Não é possível servir a Deus e ao dinheiro; servir a Deus e ao poder”.

Papa: sacerdotes são pais e irmãos e não funcionários

Papa: sacerdotes são pais e irmãos e não funcionários

No final da manhã desta sexta-feira dia 20 de novembro o Papa Francisco recebeu em audiência na Sala Régia os participantes do encontro promovido pela Congregação para o Clero, nos 50 anos do documentos conciliares Optatam Totius e Presbyterorum Ordinis dedicados à formação e ministérios dos sacerdotes.

O tema deste encontro é: “Uma vocação, uma formação, uma missão. O caminho discipular do presbítero”. No discurso que proferiu o Santo Padre pediu aos sacerdotes para viverem no meio do povo não como profissionais da pastoral e da evangelização mas como pais e irmãos.

O Papa Francisco considerou os decretos conciliares sobre a formação dos sacerdotes como sendo um semente que “o Concílio lançou no campo da vida da Igreja”. A semente da formação inicial e permanente dos sacerdotes.

O Papa recordou que Bento XVI com o Motu Próprio Ministrorum Institutio deu uma forma concreta jurídica à realidade da formação, atribuindo à Congregação para o Clero também uma competência sobre os seminários. “E o caminho de santidade de um padre começa no seminário” – afirmou o Santo Padre.

Precisamente, sobre a vocação sacerdotal o Papa Francisco considerou fundamental o papel da família e sublinhou a dimensão essencial do povo na vida de um padre. Porque este foi “escolhido de entre os homens” para o serviço “em favor dos homens” e para “estar no meio dos homens”, no meio do povo – salientou o Santo Padre.

Os sacerdotes são anunciadores da alegria do Evangelho, que não perdendo as suas próprias raízes e a cultura do povo onde nasceram – disse o Papa – não devem ser “profissionais da pastoral e da evangelização”, que trabalham como se desenvolvessem uma profissão:

“Faz-se padre para estar no meio da gente. O bem que os padres possam fazer nasce sobretudo da sua proximidade e de um terno amor pelas pessoas. Não são filantropos ou funcionários, mas padres e irmãos.”

O Papa Francisco concluiu a sua alocução convidando cada um dos sacerdotes a um exame de consciência com uma simples pergunta: “se o Senhor voltasse hoje, onde me encontraria?”

domingo, 8 de novembro de 2015

Papa a jornal de rua: ganância gera pobreza

Papa a jornal de rua: ganância gera pobreza

Cidade do Vaticano (RV) – O jornal de rua holandês Straatniews, com sede em Utrecht, na Holanda, publicou em sua mais recente edição uma entrevista com o Papa Francisco, realizada no dia 27 de outubro.

O jornal, levado adiante por jornalistas, fotógrafos e ilustradores voluntários, é vendido por moradores de rua, entre os quais alguns migrantes. As edições do Straatniews também chegam à cidades importantes como Haia, Roterdã e Amsterdã.

Na conversa informal, Francisco fala de sua infância em Buenos Aires, de como era “ruim de bola” e por isso jogava no gol, da origem de uma medalha que traz até hoje consigo, da raiz de seu empenho para com os pobres, de querer ter sido açougueiro, da venda de tesouros da Igreja e de não estar em uma “gaiola de ouro”, mas que sente falta das ruas.

Abaixo, publicamos a versão brasileira da entrevista traduzida pela Rádio Vaticano.

***

É ainda cedo quando nos apresentamos diante de um dos portões de serviço do Vaticano, à esquerda da Basílica de São Pedro. Os guardas-suíços sabem na nossa chegada e nos deixam passar. Temos que ir até a Casa Santa Marta, porque é lá que vive o Papa Francisco. A Casa Santa Marta é, provavelmente, o hotel três estrelas mais particular do mundo. Um grande edifício branco onde pernoitam cardeais e bispos que trabalham no Vaticano ou que se encontram de passagem e que também é a residência dos cardeais durante o Conclave.

Aqui também sabem da nossa chegada. Duas senhoras na recepção, como em qualquer hotel, gentilmente nos indicam uma porta lateral. A sala do encontro já havia sido preparada. Um espaço grande com uma escrivaninha, um sofá, algumas mesas e cadeiras: este é o lugar em que o Papa recebe seus convidados “informais”. Tem início a espera. Marc, um dos vendedores do Straatnieuws, é o mais tranquilo de todos e aguarda, sentado, o que acontecerá.

De repente, aparece o fotógrafo oficial do Pontífice. “O Papa está chegando”, nos sussurra.

E, antes mesmo que percebêssemos, entra na sala: Papa Francisco, o líder espiritual de 1,2 bilhão de católicos. Traz consigo um grande envelope branco. ‘Sentem-se, amigos’, nos diz fazendo um gesto gentil com a mão. ‘Que satisfação encontrá-los’. O Santo Padre dá a impressão de ser um homem calmo e amigável, mas ao mesmo tempo enérgico e preciso. Uma vez sentados, desculpa-se pelo fato de não falar holandês. O desculpamos imediatamente.

Straatniews – As nossas entrevistas começam sempre com uma pergunta sobre a rua na qual o entrevistado cresceu. O senhor, Santo Padre, o que se lembra daquela rua? Que imagens lhe vêm à mente pensando nas ruas de sua infância?

Papa Francisco – Desde quando tinha 1 ano até quando entrei no seminário, vivi na mesma rua. Era uma rua simples de Buenos Aires, casas baixas. Havia uma pracinha onde jogávamos bola. Me lembro que fugia de casa e ia jogar bola com os meninos depois da escola. Meu pai trabalhava em uma fábrica a 100 metros dali. Era contador. Meus avós viviam a 50 metros. Todos a poucos passos. Me lembro também o nome das pessoas, como padre fui dar os sacramentos, o último conforto a tantos, que me chamavam e eu ia porque gostava deles. Estas são as minhas recordações espontâneas.

S – O senhor jogava bola?

Papa – Sim

S – Era bom?

Papa – Não. Em Buenos Aires quem jogava como eu era chamado de ‘pata dura’. Quer dizer, o mesmo que ter duas pernas esquerdas. Mas eu jogava, era goleiro muitas vezes.

S – Como nasceu seu empenho pessoal pelo pobres?

Papa – Sim, tantas recordações me vêm à mente. Me impressionou muito uma senhora que vinha à minha casa três vezes por semana para ajudar minha mãe. Por exemplo, ajudava na lavanderia. Ela tinha dois filhos. Eram italianos, sicilianos, e viveram a guerra, eram muito pobres, mas muito bons. Sempre mantive a recordação daquela mulher. A sua pobreza me impressionava. Nós não éramos ricos, chegávamos ao fim do mês normalmente, mas não além. Não tínhamos um carro, não tirávamos férias ou coisas assim. Mas a ela muitas vezes faltavam as coisas necessárias. Nós tínhamos o suficiente e minha mãe lhe dava as coisas. Depois, ela voltou para a Itália, e voltou de novo para a Argentina. Encontrei-a novamente quando era arcebispo de Buenos Aires, ela tinha 90 anos. E eu a acompanhei até a morte, aos 93 anos. Um dia, ela me deu uma medalha do Sagrado Coração de Jesus que até hoje ainda trago comigo. Esta medalha – que também é uma recordação – me faz muito bem. Queres ver?

(Com certa dificuldade, o Papa consegue tirar a medalha, completamente descolorida depois de ser usada por anos).

Assim, penso nela todos os dias e o quanto sofreu pela pobreza. E penso a todos os outros que sofreram. Carrego e rezo...

S – Qual é a mensagem da Igreja para os sem-teto? O que significa a solidariedade cristã para eles, concretamente?

Papa – Penso em duas coisas. Jesus veio ao mundo sem-teto e se fez pobre. A Igreja quer abraçar a todos e dizer que é um direito ter um teto sobre você. Nos movimentos populares trabalha-se com três ‘t’ espanhóis, trabalho, teto, terra. A Igreja predica que todas as pessoas têm direito a estes três ‘t’.

S – O senhor pede com frequência atenção aos pobres e refugiados. Não acredita que assim possa criar uma forma de cansaço nos meios de comunicação e na sociedade em geral?

Papa – A todos nós vem a tentação – quando se fala de um tema que não é agradável, porque é desagradável falar – de dizer: ‘Chega, isso cansa demais’. Eu sinto que o cansaço existe, mas não me preocupo. Devo continuar a falar das verdades e de como as coisas são.

S – É o seu dever?

Papa – Sim, é o meu dever. Sinto isso dentro de mim. Não é um mandamento, mas como pessoas, todos devemos fazer.

S – Não teme que a sua defesa da solidariedade e da ajuda aos sem-teto e outros pobres possa ser instrumentalizada politicamente? Como a Igreja deve falar para ser influente e, ao mesmo tempo, ficar de fora dos alinhamentos políticos?

Papa – Existem estradas que levam a erros neste ponto. Gostaria de destacar duas tentações. A Igreja deve falar com a verdade e também com o testemunho: o testemunho da pobreza. Se um fiel fala da pobreza ou dos sem-teto e leva uma vida de faraó: isso não se pode fazer. Esta é a primeira tentação. A outra é de fazer acordos com os governos.

Acordos podem ser feitos, mas devem ser acordos claros, transparentes. Por exemplo, nós administramos este edifício, mas as contas são todas controladas, para evitar a corrupção. Porque há sempre a tentação da corrupção na vida pública. Seja política, seja religiosa. Recordo que uma vez, com muito pesar, vi – quando a Argentina sob o regime militar entrou na guerra contra a Inglaterra pelas Ilhas Malvinas – que as doações, e vi que muitas pessoas, também católicos, que estavam encarregados de distribui-las, as levavam para casa. Existe sempre o perigo da corrupção. Uma vez fiz uma pergunta a um ministro argentino, um homem honesto. Ele que deixou o cargo porque não podia concordar com algumas coisas um pouco obscuras. Lhe fiz a pergunta: quando vocês enviam ajudas, seja alimento, vestido, dinheiro, aos pobres e aos indigentes: aquilo que mandam, quanto chega realmente? Me disse: 35%. Significa que 65% se perde. É a corrupção: um pedaço para mim, um outro pedaço para mim.

S – Acredita que até agora no seu Pontificado pôde obter uma mudança mental, por exemplo, na política?

Papa – Não sei o que responder. Não sei. Sei que alguns disseram que eu era comunista. Mas é uma categoria um pouco antiquada (risos). Talvez hoje se utilizem outras palavras para dizer isto...

S – Marxista, socialista...

Papa – Disseram tudo isso.

S – Os sem-teto têm problemas financeiros, mas cultivam a própria liberdade. O Papa não tem nenhuma necessidade material, mas é considerado por alguns como um prisioneiro no Vaticano. Não sente nunca o desejo de se colocar nas vestes de um sem-teto?

Papa – Lembro do livro de Mark Twain ‘O príncipe e o pobre’, quando alguém pode comer todos os dias, tem roupas, uma cama para dormir, uma escrivaninha para trabalhar e não falta nada. Tem até mesmo amigos. Mas este príncipe de Mark Twain vive numa gaiola de ouro.

S – O senhor se sente livre aqui no Vaticano?

Papa – Dois dias depois de ser eleito Papa, eu fui (na versão em holandês: “como se costuma dizer oficialmente”) tomar posse do apartamento papal, no Palácio Apostólico. Não é um apartamento de luxo. Mas é amplo, é grande... Depois de ter visto este apartamento me parecia um funil ao contrário, isto é, grande, mas com uma pequena porta. Isto significa estar isolado. Eu pensei: não posso viver aqui, simplesmente por razões mentais. Iria me fazer mal. No início, parecia uma coisa estranha, mas eu pedi para ficar aqui, na Casa Santa Marta. E isso é bom para mim, porque eu me sinto livre. Eu almoço e janto no refeitório onde todos comem. E quando chego com antecedência, faço as refeições com os funcionários. Encontro pessoas, eu as saúdo e isso faz com que a gaiola de ouro não seja tanto uma gaiola. Mas eu sinto falta da rua.

S –  Santo Padre, Marc quer convidá-lo para sair e comer uma pizza conosco. O que o senhor acha?

Papa – Eu gostaria, mas não conseguiremos fazer isso. Porque no momento que eu sair daqui as pessoas virão até mim. Quando eu fui mudar as lentes dos meus óculos na cidade, eram 7 da noite. Não havia muitas pessoas na rua. Levaram-me ao ótico e quando sai do carro havia uma mulher que me viu e gritou: “É o Papa”. E então eu estava dentro e fora, tanta gente...

S – Faz falta o contato com as pessoas?

Papa – Eu não sinto falta porque as pessoas vêm aqui. Toda quarta-feira eu vou à Praça para a Audiência Geral, às vezes eu vou a uma paróquia: estou em contato com as pessoas. Por exemplo, ontem (26 de outubro) vieram mais de 5 mil ciganos à Sala Paulo VI.

S – Pode-se ver que o senhor gosta desta volta na praça durante a Audiência geral ...

Papa – É verdade. Sim, é verdade.

S - O seu homônimo São Francisco escolheu a pobreza radical e vendeu também o seu Evangelho. Como Papa, e Bispo de Roma, o senhor não se sente às vezes sob pressão para vender os tesouros da Igreja?

Papa – Esta é uma pergunta fácil. Não são os tesouros da Igreja, mas são os tesouros da humanidade. Por exemplo, se eu amanhã digo que a Pietà de Michelangelo será leiloada, não é possível, porque não é de propriedade da Igreja. Está em uma igreja, mas é da humanidade. Isso se aplica a todos os tesouros da Igreja. Mas nós começamos a vender presentes e outras coisas que são dadas para mim. E os rendimentos da venda vão para Dom Krajewski, que é meu elemosineiro. E depois tem também a loteria. Há carros que foram vendidos ou cedidos em uma loteria, e os recursos recolhidos utilizados para os pobres. Há coisas que se podem vender e essas se vendem.

S – O senhor percebe que a riqueza da Igreja pode criar este tipo de expectativas?

Papa – Sim, se fizermos um catálogo dos bens da Igreja, se pensa: a Igreja é muito rica. Mas quando foi feito a Concordata com a Itália em 1929 sobre a Questão Romana, o governo italiano daquele tempo ofereceu à Igreja um grande parque em Roma. O papa na época, Pio XI, disse: não, eu gostaria apenas de meio quilômetro quadrado para garantir a independência da Igreja. Este princípio vale ainda hoje. Sim, os bens imóveis da Igreja são muitos, mas nós os usamos para manter as estruturas da Igreja e para manter muitas obras que são feitas em países necessitados: hospitais, escolas. Ontem, por exemplo, eu pedi para enviar ao Congo 50 mil euros para construir três escolas em lugares pobres; a educação é uma coisa importante para as crianças. Eu fui à administração competente, fiz este pedido e o dinheiro foi enviado.

S - Vamos falar sobre a Holanda. O senhor nunca esteve em nosso país?

Papa – Sim, uma vez quando eu era superior provincial dos jesuítas na Argentina. Estava de passagem durante uma viagem. Eu fui a Wijchen, porque ali havia o noviciado, e também fui a Amsterdã por um dia e meio, onde visitei uma casa dos jesuítas. Sobre a vida cultural não vi nada porque eu não tinha tempo.

S – Por isso poderia ser uma boa ideia se os sem-teto da Holanda convidassem o senhor para uma visita ao nosso país. O que a acha, Santo Padre?

Papa – As portas não estão fechadas a essa possibilidade.

S - Então, quando haverá um pedido desta natureza, o senhor vai levá-lo em consideração?

Papa – Eu o considerarei. E agora que a Holanda tem uma rainha argentina (risos), quem sabe.

S - Alguma mensagem especial para os sem-teto em nosso país?

Papa – Eu não conheço bem a situação dos sem-teto na Holanda. Eu gostaria de dizer que a Holanda é um país desenvolvido com tantas possibilidades. Eu pediria aos sem-teto holandeses para continuarem a lutar pelos três 't'.

Na conclusão, também Marc faz algumas perguntas. Ele quer saber, entre outras coisas, se o Papa quando era criança sonhava em se tornar Papa. O Papa respondeu com um firme "não".

Papa – Eu faço uma confidência. Quando eu era pequeno não havia lojas que vendiam coisas. Em vez disso, havia o mercado onde se encontrava o açougueiro, o verdureiro e assim por diante. Eu fui lá com minha mãe e minha avó para fazer compras. Eu era pequeno, eu tinha quatro anos. E uma vez me perguntaram: O que você gostaria de ser quando crescer? Eu disse: açougueiro!

S - Para muitos, até 13 de março de 2013 o senhor era uma pessoa desconhecida. Em seguida, de um momento para outro, se tornou famoso em todo o mundo. Como viveu essa experiência?

Papa – Chegou e não esperava isso. Eu não perdi a paz. E isso é uma graça de Deus. Eu não penso muito no fato de que sou famoso. Eu digo para mim mesmo: agora eu tenho um lugar importante, mas em dez anos ninguém mais vai me reconhecer (risos). Você sabe, existem dois tipos de fama: a fama dos “grandes” que fizeram grandes coisas, como Madame Curie, e a fama dos vaidosos. Mas essa última fama é como uma bolha de sabão.

S - Então, o senhor diz "agora eu estou aqui e eu tenho que fazer o melhor" e continuará este trabalho até quando for capaz?

Papa – Sim.

S - Santo Padre, o senhor pode imaginar um mundo sem os pobres?

Papa – Eu gostaria de um mundo sem pobres. Devemos lutar por isso. Mas eu sou um crente e sei que o pecado está sempre dentro de nós. E há sempre a ganância humana, a falta de solidariedade, o egoísmo que criam os pobres. Por isso, me parece um pouco difícil imaginar um mundo sem pobres. Se você pensa nas crianças exploradas para o trabalho escravo, ou nas crianças exploradas para o abuso sexual. E outra forma de exploração: matar crianças para a remoção de órgãos, o tráfico de órgãos. Matar as crianças para remover órgãos é ganância. Por isso, não sei se teremos um mundo sem os pobres, porque o pecado sempre existe e nos leva ao egoísmo. Mas devemos lutar, sempre, sempre...

Terminamos. Agradecemos ao Papa pela entrevista. Também ele nos agradece e diz que gostou muito da entrevista. Então pega o envelope branco que todo o tempo manteve ao seu lado no sofá e tira para cada um de nós um rosário. São tiradas fotos e, em seguida, o Papa Francisco se despede. Tão calmo e tranquilo como ele chegou, agora sai pela porta.

***

(RB-SP)

(from Vatican Radio)

Papa: bons samaritanos em defesa da vida

Papa: bons samaritanos em defesa da vida

Cidade do Vaticano (RV) - O Papa Francisco recebeu, nesta sexta-feira (06/11), no Vaticano, os participantes da 35ª Conferência dos Centros de Ajuda para a  Vida.

O encontro se realiza em Roma, até o próximo dia 8, e reúne pessoas da Cidade Eterna e de outras partes da Itália, que debatem sobre o tema “Histórias de amor imenso”.

“Vocês estão aqui para participar da conferência nacional e renovar mais uma vez o compromisso de defender e promover a vida humana”, frisou Francisco, incentivando os membros do Movimento pela Vida a prosseguirem na obra em favor da vida desde a concepção até a morte natural.

Pobres

“A vida humana é um dom que deve ser protegido das várias formas de degradação. O trabalho que vocês realizam não é somente um serviço social. Para os discípulos de Cristo, ajudar a vida humana ferida significa ir ao encontro das pessoas carentes, colocar-se ao lado delas e assumir a sua fragilidade e dor para que possam se reerguer”, disse ainda o Papa.

Feridas

“Quantas famílias são vulneráveis por causa da pobreza, da doença, da falta de trabalho e casa! Quantos idosos carregam o peso do sofrimento e da solidão! Quantos jovens desanimados, ameaçados por dependências e outras escravidões, que esperam reencontrar a confiança na vida! Estas pessoas, feridas no corpo e na alma, são o ícone daquele homem do Evangelho que, percorrendo o caminho de Jerusalém a Jericó, caiu nas mãos de assaltantes que lhe arrancaram tudo, e o espancaram. Ele experimentou a indiferença de alguns e depois a proximidade do bom samaritano”, sublinhou o pontífice.

Indiferença

“Também em nosso tempo existem muitos feridos por causa dos assaltantes de hoje, que tiram das pessoas não somente os seus pertences, mas também a sua dignidade. Diante da dor e necessidades de nossos irmãos indefesos, alguns se viram para o outro lado ou vão adiante, enquanto outros param e respondem ao seu grito de ajuda.”

Bom samaritano

O Santo Padre disse que o Movimento pela Vida, em seus quarenta anos de atividades, procurou imitar o bom samaritano. “Diante das ameaças contra a vida humana, vocês se aproximaram do outro e trabalharam para que na sociedade não sejam excluídos e descartados aqueles que vivem em condições precárias”, destacou o Papa.
  Maternidade

“O número relevante de mulheres, sobretudo imigrante, que procura os seus centros mostra que quando é oferecido um apoio concreto, a mulher é capaz de fazer triunfar dentro de si o sentido do amor, da vida e da maternidade”, disse ainda Francisco.

O pontífice concluiu seu discurso, desejando que o Ano Santo da Misericórdia seja para os membros do Movimento pela Vida estímulo e renovação interior. (MJ)

(from Vatican Radio)

Os direitos que devem ser garantidos para um mundo melhor - Trabalho, casa e terra

Os direitos que devem ser garantidos para um mundo melhor - Trabalho, casa e terra

O Papa concedeu uma entrevista ao «Straatnieuws», jornal dos desabrigados de Utrecht, nos Países Baixos, e foi relançada por outros jornais do mundo, consorciados com o International Network of Street Papers que conta 113 membros. Lê-se na entrevista: ainda é cedo quando nos apresentamos no portão de serviço do Vaticano, à esquerda da Basílica de São Pedro. Os guardas suíços foram avisados sobre a nossa chegada e deixam-nos entrar. Devemos ir à Casa de Santa Marta, porque é lá que o Papa Francisco vive. Aquela Casa de Santa Marta provavelmente é o hotel três estrelas mais singular do mundo. Um grande edifício branco no qual pernoitam cardeais e bispos que desempenham o seu serviço no Vaticano ou onde se encontram de passagem e é também a residência de cardeais durante o conclave.

Também ali sabem da nossa chegada. Duas senhoras na recepção, como em todos os hotéis, gentilmente nos indicam uma porta lateral. A sala do encontro já estava preparada. Um espaço bastante grande com uma escrivaninha, um sofá, algumas mesas e cadeiras, é o local da recepção durante a semana do Papa. Depois, inicia a espera. Marc, o vendedor de «Straatnieuws», é o mais tranquilo de todos e espera, sentado numa cadeira, o que vier.

De repente, apresenta-se o fotógrafo oficial. «O Papa está chegando», sussurra-nos. E antes que nos dêssemos conta o Papa Francisco, chefe espiritual de 1, 2 biliões de católicos, entra na sala. Traz consigo um grande envelope branco. «Sentai-vos, amigos», diz com um gesto gentil da mão, «que prazer que estais aqui». O Santo Padre dá a impressão de um homem calmo e amistoso mas, ao mesmo tempo, enérgico e meticuloso. Uma vez sentados desculpa-se pelo facto que não fala holandês. Perdoamo-lo imediatamente.

Na terça-feira o Papa visitará Florença e Prato - Uma agenda de esperança

Na terça-feira o Papa visitará Florença e Prato - Uma agenda de esperança

Uma espécie de laboratório da sociedade futura: um mosaico de culturas, línguas, tradições e raças, que se entrelaçam e se tocam de leve diariamente num tecido social atravessado por crises econômicas e de emprego.

Assim D. Franco Agostinelli, bispo de Prato, numa entrevista concedida ao nosso jornal, descreve o rosto da cidade onde na próxima terça-feira, 10 de Novembro, o Papa irá em visita, permanecendo por cerca de uma hora, antes de chegar a Florença para encontrar os participantes no congresso da Igreja italiana. O prelado, à pergunta sobre o que representa para Prato a visita do Pontífice, responde da seguinte forma: «Sem dúvida, é muito significativa, porque o que esperamos do Papa Francisco é uma palavra para a realidade que a cidade está a viver neste momento. Queremos reflectir acerca disso e continuar o nosso percurso diocesano também depois de ter terminado a visita e o congresso eclesial nacional. É uma expectativa que nos incentiva a fazer; e é um fazer que tem o conforto daquilo que o Pontífice nos dirá».

Podemos dizer o mesmo para Florença, cujo cardeal arcebispo Giuseppe Betori apresenta ao entrevistador a iniciativa da «casa da caridade»: trata-se de um «condomínio solidário» no bairro popular de Novoli, com dezasseis apartamentos, um lar para idosos, uma estrutura de acolhimento para as emergências habitacionais e um creche para crianças destinado a permanecer um sinal tangível do congresso eclesial nacional, em programa de 9 a 13, e da presença do Pontífice. No que diz respeito ao acolhimento que o Papa Francisco encontrará, o porpurado explica: «Cada encontro do Pontífice com os seus filhos é, em primeiro lugar, fonte de alegria. A expectativa, portanto, é alta entre os fiéis católicos e, em geral, entre os cidadãos. Demonstra-o também o gesto feito pela administração da Câmara municipal, que quis preparar a visita com uma série de encontros nos quais foram aprofundados os temas e os objectivos destes eventos». 

Papa: não a Igreja mercantil, chega de carreiristas apegados ao dinheiro

Papa: não a Igreja mercantil, chega de carreiristas apegados ao dinheiro

Cidade do Vaticano (RV) – Bispos e sacerdotes vençam as tentações de “uma vida dupla”, a Igreja deve servir aos outros e não servir-se dos outros”. Esta é uma das passagens da homilia matutina do Papa Francisco na manhã desta sexta-feira (6/11), na Casa Santa Marta. O Pontífice chamou atenção para os “carreiristas, apegados ao dinheiro”.

Servir, servir-se. O Papa desenvolveu a sua homilia sobre dois personagens de servos, apresentados na Liturgia do dia. Antes de tudo, a figura de Paulo que “se doou todo ao serviço, sempre” para terminar em Roma “traído por alguns dos seus” e terminando por ser “condenado”. De onde vinha a grandeza do Apóstolo dos Gentios, se pergunta o Pontífice. De Jesus Cristo e “ele se orgulhava de servir, de ser eleito, de ter a força do Espírito Santo”.

Cristão é chamado a servir

Era o servo que servia, reiterou, “administrava, lançando as bases, ou seja, anunciando Jesus Cristo” e “nunca parava para ter a vantagem de um lugar, de uma autoridade, de ser servido. Ele era ministro, servo para servir, não para servir-se”:

“Eu lhes digo quanta alegria tenho, eu, que me comovo, quando alguns padres vêm a essa missa e me cumprimentam: ‘Oh padre, vim aqui para encontrar os meus, porque há 40 anos sou missionário na Amazônia’. Ou uma religiosa que diz: ‘Não, eu trabalho há 30 anos em um hospital na África’. Ou quando encontro uma irmãzinha que há 30, 40 anos trabalha na sessão do hospital com os portadores de necessidades especiais, sempre sorridente. Isto se chama servir, esta é a alegria da Igreja: ir além, sempre; ir além e dar a vida. Isto é aquilo que Paulo fez: servir”

Não aos carreiristas apegados ao dinheiro na Igreja

No Evangelho, continuou o Papa, o Senhor nos mostra a imagem de outro servo, “que em vez de servir os outros se serve dos outros”. E, sublinhou, “lemos o que fez este servo, como quanta astúcia se moveu, para permanecer no seu lugar”.

“Também na Igreja, há aqueles que em vez de servir, de pensar nos outros, de estabelecer as bases, se servem da Igreja: os carreiristas, os apegados ao dinheiro. E quantos sacerdotes, bispos vimos assim. É triste dizer isso, não? A radicalidade do Evangelho, do chamado de Jesus Cristo: servir, estar a serviço de, não parar, ir ainda mais longe, esquecendo-se de si mesmo. E o conforto do status: eu atingi um status e vivo confortavelmente sem honestidade, como os fariseus de que fala Jesus, que passeavam pelas praças, para serem vistos pelas pessoas”.

Igreja que não serve, torna-se Igreja mercantil

Duas imagens, destacou Francisco: “Duas imagens de cristãos, duas imagens de sacerdotes, duas imagens de freiras. Duas imagens”. Jesus, reiterou o Papa, “nos faz ver esse modelo em Paulo, esta Igreja que nunca está parada, que sempre cria bases, que vai sempre para a frente e nos faz ver que esse é o caminho”.

“Mas quando a igreja é morna, fechada em si mesma, também muitas vezes mercantil, não se pode dizer, que é uma igreja que ministra, que está a serviço, mas sim que se serve dos outros. Que o Senhor nos dê a graça que deu a Paulo, o ponto de honra para ir sempre para a frente, sempre, renunciando às próprias comodidades tantas vezes, e nos livre das tentações, dessas tentações que, são fundamentalmente, as tentações de uma vida dupla: apresento-me como ministro, como quem serve, mas no fundo eu me sirvo dos outros”. (RB-SP)

(from Vatican Radio)

O Papa: direito ao trabalho, direito ao descanso

O Papa: direito ao trabalho, direito ao descanso

«É vergonhoso!»: não usa meios termos o Papa Francisco perante as situações «de desemprego, injustiça social, trabalho não declarado, precariedade» assim «tão forte» hoje no mundo, na Itália e mesmo em Roma. Uma consideração acrescentada de forma improvisada ao discurso preparado para os vinte e três mil funcionários e dirigentes do Instituto nacional de previdência social (Inps), que vieram de todas as partes Itália para o encontro realizado na manhã de sábado, 7 de Novembro, na praça de São Pedro.

Francisco quis contextualizar a sua reflexão – focalizada inteiramente no «direito ao descanso - inserindo-a «na sociedade hodierna, com os seus equilíbrios difíceis e a fragilidade das suas relações», e no mundo do trabalho «atormentado pela insuficiência de emprego e pela precariedade das garantias que consegue oferecer». Por conseguinte, fez surgir um interrogativo que interpela as consciências: «Se vivermos deste modo – questionou-se – como é possível descansar? O repouso é o direito que todos temos quanto trabalhamos». Ao contrário, são cada vez mais os desempregados, os desesperados prontos a aceitar qualquer emprego e qualquer condição, sofrendo injustiças e prevaricações que o Papa não hesitou em definir vergonhosas.

Reafirmando que «a reforma é um direito», o Pontífice denunciou os «extremismos aberrantes» aos quais chegaram muitas vezes hipóteses e negociações relativas à conclusão do trabalho e o sucessivo período de descanso. Em seguida, evidenciou a necessidade de «subsídios indispensáveis para a subsistência dos trabalhadores desempregados e das suas famílias» e recomendou «uma atenção privilegiada para com o trabalho feminino, assim como aquela assistência à maternidade que deve sempre tutelar a vida que nasce e quem a serve quotidianamente».

«O trabalho – afirmou o Papa na conclusão – não pode ser uma mera engranagem no mecanismo perverso que esmaga recursos para obter lucros cada vez maiores. E «não pode, portanto, ser prolongado ou reduzido em função do lucro de poucos e de forma produtivas que sacrificam os valores, as relações e os princípios».


sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Dois presos no Vaticano por divulgação de notícias confidenciais

Dois presos no Vaticano por divulgação de notícias confidenciais

No âmbito das investigações da polícia judiciária realizadas pela Gendarmaria do Vaticano e iniciadas há alguns meses a propósito da subtração e divulgação de notícias e documentos confidenciais, no sábado 31 de Outubro e no domingo 1 de Novembro, foram convocadas duas pessoas para ser interrogadas com base nos elementos recolhidos e nas evidências confirmadas.



Trata-se de um eclesiástico, monsenhor Lucio Angel Vallejo Balda, e de Francesca Chaouqui, que no passado foram respectivamente secretário e membro da Comissão referente de estudo e orientação sobre a organização das estruturas económico-administrativas da Santa Sé (Cosea), instituída pelo Papa em Julho de 2013 e, sucessivamente, dissolvida depois do cumprimento do seu mandato.

Após os resultados dos interrogatórios estas duas pessoas foram presas na expectativa do prosseguimento das investigações.

No dia 2 o departamento do promotor de justiça nas pessoas de Gian Piero Milano, promotor de justiça, e Roberto Zannotti, promotor de justiça adjunto, confirmou a prisão das citadas pessoas, libertando Chaouqui, em relação à qual não há exigência de medidas cautelares, também devido à sua colaboração nas investigações.

A posição de monsenhor Vallejo Balda permanece sob exame do departamento do promotor de justiça.

Deve-se recordar que a divulgação de notícias e documentos confidenciais é crime previsto pela lei n. IX do Estado da Cidade do Vaticano (13 de Julho de 2013), art. 10 (art. 116 bis c.p.).

Quanto aos livros anunciados para os próximos dias, esclarece-se que também desta vez, como já aconteceu no passado, são frutos de uma grave traição da confiança atribuída pelo Papa e, em relação aos autores, de uma acção para obter vantagem de um acto gravemente ilícito de entrega de documentação confidencial, acção cujas consequências jurídicas e eventualmente penais são objecto de reflexão por parte do departamento do promotor na expectativa de eventuais ulteriores medidas, recorrendo, se for o caso, à cooperação internacional.

Publicações deste género não ajudam de modo algum para estabelecer clareza e verdade, mas geraram confusão e interpretações parciais e tendenciosas. É preciso absolutamente evitar o equívoco de pensar que isto seja um modo para ajudar a missão do Papa.

Leigos: Simpósio em Roma celebra 50 anos do decreto conciliar

Leigos: Simpósio em Roma celebra 50 anos do decreto conciliar

Na próxima terça-feira, 10 de novembro vai ter lugar em Roma na Aula Magna “João Paulo II” da Universidade Pontifícia da Santa Cruz, um dia de estudo intitulado “Vocação e missão dos leigos. À distância de cinquenta anos do decreto Apostolicam actuositatem” de 18 de novembro de 1965.

Com este acontecimento, o Conselho Pontifício para os Leigos quer celebrar o aniversário da promulgação do decreto conciliar que, no contexto do Concílio Vaticano II, relançou a importância da vocação e da missão dos fiéis leigos na Igreja e no mundo. O desejo formulado nesse decreto de ver constituído “na Santa Sé um secretariado especial para o serviço e o impulso do apostolado dos leigos”, esteve depois na origem aquilo que hoje é o Conselho Pontifício para os Leigos, que desenvolve a sua atividade ajudando o Santo Padre na promoção do laicado na Igreja e no mundo contemporâneo.

(RS/RL)

(from Vatican Radio)

50 anos da Gaudium et spes

50 anos da Gaudium et spes

Cidade do Vaticano (RV) - O Pontifício Conselho da Justiça e da Paz celebra nos dias 5 e 6 deste mês, na Sala Nova do Sínodo, no Vaticano, e no Church Palace, em Roma, o 50° aniversário da Constituição Pastoral sobre a Igreja no mundo contemporâneo, Gaudium et spes.

Nesta quinta-feira, 5 de novembro, na Sala Nova do Sínodo se realizará uma celebração solene que introduzirá ao contexto histórico em que foi pensada e escrita a Constituição pastoral. Depois haverá o pronunciamento de algumas testemunhas do Concílio Vaticano II.

A sessão inaugural se concluirá com a entrega simbólica da herança da Gaudium et spes a uma delegação de jovens provenientes de vários continentes. Os trabalhos prosseguirão, após o almoço, no  Church Palace, onde se refletirá sobre a atualidade dos conteúdos da Gaudium et spes.

Depois do pronunciamento de alguns especialistas de várias nacionalidades serão feitos comentários dos representantes dos Centros de Doutrina Social da Igreja provenientes de várias regiões do mundo. Os centros foram convidados a apresentar textos sobre o impacto que o documento conciliar teve, nesses cinquenta anos, na vida eclesial e social de seus países.

Nos dois dias de encontros e reflexões serão abordados temas sobre a dignidade do ser humano, a busca de um novo modelo econômico hoje, trabalho digno, desafio das migrações, impacto das novas tecnologias, relação entre Evangelho e cultura, família e  liderança política. (MJ)

(from Vatican Radio)

Papa: somos chamados a servir na Igreja

Papa: somos chamados a servir na Igreja

Cidade do Vaticano (RV) - O Papa Francisco celebrou a missa, nesta terça-feira (03/11), na Basílica de São Pedro, em sufrágio dos cardeais e bispos que faleceram durante este ano.

“Nesta terra eles amaram a Igreja, sua esposa. Rezemos para que em Deus possam ter alegria plena, na comunhão dos santos”, disse o Pontífice em sua homilia.

O Papa frisou que a vocação desses ministros sagrados foi a de ministrar, ou seja, servir. “Somos chamados a renovar a escolha de servir na Igreja. É o que o Senhor nos pede. Como um servo Ele lavou os pés de seus discípulos para que façamos o mesmo”, disse Francisco.

Contracorrente

“Quem serve e doa parece um perdedor aos olhos do mundo. Na realidade, perdendo a vida, a reencontra. Uma vida que se despoja de si, perdendo-se no amor, imita Cristo: vence a morte e dá vida ao mundo. Quem serve, salva. Quem não vive para servir, não serve para viver”, sublinhou o Papa.

O Evangelho nos recorda que Deus amou tanto o mundo. “Trata-se de um amor concreto, tão concreto que tomou sobre si a nossa morte. Para nos salvar Ele veio até nós. Este é o abaixamento que o Filho de Deus fez, inclinando-se como um servo, para nos escancarar a porta da vida”.

Amor

“Este estilo de Deus, que nos salva servindo-nos e aniquilando-se tem muito a nos ensinar. Nós esperamos uma vitória divina triunfante, mas Jesus nos mostra uma vitória humilde. Levantado na cruz deixa que o mal e a morte se voltem contra Ele enquanto continua a amar”.

“Para nós é difícil aceitar esta realidade. É um mistério. O sinal deste mistério, desta humildade extraordinária está na força do amor”, frisou o Santo Padre.

Esperança

Na Páscoa de Jesus vemos a morte e o remédio para a morte. “Isto é possível por causa do grande amor com o qual Deus nos amou, do amor humilde que se abaixa, do serviço que sabe assumir a condição de servo. Jesus não somente tirou o mal, mas o transformou em bem. Ele fez da cruz uma ponte para a vida”, sublinhou Francisco.

“Que seja suficiente para a nossa vida a Páscoa do Senhor. Assim, seremos servos segundo o seu coração e não funcionários que prestam serviço, mas filhos amados que doam a vida para o mundo”, concluiu o Papa. (MJ)

(from Vatican Radio)

Audiência: perdoar os pecados na família

Audiência: perdoar os pecados na família

Quarta-feira, 4 de Novembro, audiência geral na Praça de S. Pedro com o Papa Francisco. Tema da catequese: perdoar os pecados na família. O Santo Padre começou por afirmar que durante o Sínodo dos Bispos sobre a Família foi produzido um documento que foi publicado e sobre o qual o Papa assegurou que irá meditar. Entretanto, nesta audiência o Papa falou sobre a “família como um grande ginásio, onde se treina para o dom e o perdão recíproco.”

Desde logo, o Papa Francisco deixou claro que o perdão é uma característica fundamental da vida em família:

“Não se pode viver sem nos perdoarmos, ou pelo menos não se pode viver bem, especialmente em família.“

No dia-a-dia, não faltam ocasiões em que nos portamos mal e somos injustos com os outros. Então o que temos de fazer é procurar imediatamente curar as feridas que causamos. Porque, se adiarmos demasiado, tudo se torna mais difícil – afirmou o Santo Padre que voltou a recordar um conselho essencial para a vida conjugal e familiar:

“E há um segredo simples para curar as feridas e para diluir as acusações: não deixar terminar o dia sem pedir desculpa, sem dar paz entre marido e mulher, entre pais e filhos, entre irmão e irmã, entre nora e sogra!”

Se aprendemos a pedir logo desculpa e a darmo-nos reciprocamente o perdão – continuou o Papa – as feridas curam, o matrimónio robustece e a família torna-se uma casa sempre mais sólida, que resiste aos abalos das nossas pequenas e grandes maldades.

Verdadeiramente as famílias cristãs podem ajudar muito a sociedade actual e a própria Igreja – afirmou ainda o Santo Padre que declarou o seu desejo de que no Jubileu da Misericórdia as famílias descubram o tesouro do perdão.

“Por isso desejo que, no Jubileu da Misericórdia, as famílias descubram, de maneira nova e mais profunda, o tesouro do perdão recíproco.”

Na verdade, é recebendo o perdão de Deus que somos capazes de, por nossa vez, perdoarmos aos outros – referiu o Papa Francisco na conclusão da sua homilia sublinhando que foi para sermos capazes de perdoar que Jesus nos faz repetir isso mesmo na oração do Pai-Nosso: “perdoai-nos os nossos pecados assim como nós perdoamos a quem nos tenha ofendido.”

O Santo Padre saudou também os peregrinos de língua portuguesa:

“Com cordial afecto, saúdo todos os peregrinos de língua portuguesa, em especial o grupo brasileiro de Mogi das Cruzes. O Senhor vos abençoe, para serdes em toda a parte farol de luz do Evangelho para todos. Possa esta peregrinação fortalecer nos vossos corações o sentir e o viver com a Igreja. Nossa Senhora acompanhe e proteja a vós todos e aos vossos entes queridos.”

O Papa Francisco a todos deu a sua bênção!

(RS)

(from Vatican Radio)

Apresentado o site do dispensário pediátrico no Vaticano - A rede ao serviço dos pequeninos

Apresentado o site do dispensário pediátrico no Vaticano - A rede ao serviço dos pequeninos

Uma família de famílias de todo o mundo, que entre os muros do Vaticano encontram acolhimento e ajuda: é o dispensário pediátrico Santa Marta, que desde há noventa anos oferece assistência, também médica, a crianças e recém-nascidos de famílias em dificuldade. Desde ontem, 14 de Novembro, esta realidade está presente no site www.dispensariosantamarta.va que até ao final do ano estará disponível também em espanhol, inglês e francês, para que um número cada vez maior de pessoas a possa conhecer. Até porque quem bate à porta são sobretudo jovens mães de todos os continentes imigradas em Roma.

Na sede da via “della Stazione Vaticana”, a dois passos da entrada do Perugino e da residência papal da Casa de Santa Marta, a iniciativa informática foi apresentada à imprensa. Depois da saudação da responsável do dispensário, a irmã Antonietta Collacchi, das filhas da caridade, o site foi ilustrado pormonsenhor Lucio Adrian Ruíz, responsável do Serviço internet do Vaticano e secretário da secretaria para a Comunicação, e por Valentina Giacometti, voluntária da estrutura e coordenadora da páginas web. Consultando-as vemos a história do dispensário que surgiu por vontade de Pio XI, a vida que nele se desenrola diariamente, os serviços oferecidos a pelo menos 500 crianças e às suas famílias, graças ao trabalho de uns cinquenta voluntários, entre médicos e colaboradores leigos.

De recente foi inaugurada uma série de novos serviços em apoio à maternidade: das vacinas aos cursos sobre a alimentação. Significativamente denominada «C'è una culla per te» [Há um berço para ti], a iniciativa é hospedada em locais postos à disposição pelo Governatorato.

Segundo monsenhor, apresentar um site deste género significa «dar a conhecer o amor e a ternura que a Igreja neste bocadinho de Vaticano tem em relação aos mais pequeninos e necessitados. Como diz o Papa, internet não é uma rede de fios mas de pessoas e, por conseguinte, pretendemos criar uma rede de pessoas que aumente cada vez mais para poder ajudar mais». Pensa do mesmo modo a responsável do dispensário, que comentou: «Criámos o site para que as pessoas nos conheçam e venham pedir a nossa ajuda».

Site: www.dispensariosantamarta.va

Pe. Lombardi: Vaticano procede no caminho da transparência

Pe. Lombardi: Vaticano procede no caminho da transparência

Cidade do Vaticano (RV) - “O Vaticano está procedendo sem incertezas no caminho da transparência e da boa administração.” Foi o que disse o Diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Pe. Federico Lombardi, nesta quarta-feira (04/11), em resposta à publicação de dois livros que, baseando-se em documentos vaticanos reservados, queriam mostrar o contrário. 

Atividade ilícita

“A publicação de dois livros que têm por argumento instituições e atividades econômicas e financeiras do Vaticano é objeto de curiosidade e comentários”, escreve Pe. Lombardi numa nota. 

Segundo o jesuíta, “uma boa parte do que foi publicado é o resultado de uma divulgação de informações e documentos reservados. Portanto, uma atividade ilícita que é perseguida penalmente pelas autoridades vaticanas competentes”.

Informações já conhecidas

Sobre o conteúdo da divulgação, Pe. Lombardi ressalta que “em boa parte se trata de informações já conhecidas, mas deve ser ressaltado que a documentação publicada está principalmente relacionada com o compromisso significativo de coleta de dados e informações colocada em ação pelo próprio Santo Padre a fim de realizar um estudo e reflexão de reforma e melhoria da situação administrativa do Vaticano e da Santa Sé”.

Cosea

“Provém do arquivo da Cosea (Comissão referente de Estudo e endereçamento sobre a organização das Estruturas Econômico-Administrativas da Santa Sé) boa parte da informação publicada. O organismo foi instituído pelo Papa Francisco em 18 de julho de 2013 e desfeito após cumprir sua função. Não se trata de informações obtidas na origem contra a vontade do Papa ou dos responsáveis por várias instituições, mas geralmente de informações obtidas ou fornecidas com a colaboração destas instituições para contribuir ao objetivo positivo comum.”

Leituras diferentes

“Naturalmente, uma grande quantidade de informações desse  gênero deve ser estudada, entendida e interpretada com cuidado, equilíbrio e atenção. Muitas vezes são possíveis leituras diferentes a partir dos mesmos dados”, ressalta o jesuíta.

Fundo de Pensão

“Um exemplo é a situação do Fundo de Pensão sobre o qual foram feitas avaliações muito diferentes, desde as que falam com preocupação de um rombo às que fornecem uma leitura reconfortante.”

Bens da Igreja

“Os bens da Igreja, acrescenta Pe. Lombardi, têm como finalidade sustentar grandes atividades de serviço administradas pela Santa Sé ou instituições a ela ligadas, seja em Roma seja em outras partes do mundo”.
  Óbolo de São Pedro

“Sobre o uso do Óbolo de São Pedro é preciso ressaltar que são vários, na opinião do Santo Padre, cujo óbolo é oferecido com confiança pelos fieis a fim de ajudar o seu ministério.” As obras caritativas do Papa em favor dos pobres são certamente uma das finalidades essenciais, mas não é certamente intenção dos fiéis excluir que o Papa possa avaliar ele mesmo as urgências e a maneira de responder a essas urgências à luz de seu serviço para o bem de toda a Igreja. O serviço do Papa incluiu também a Cúria Romana, instrumento de seu serviço, as suas iniciativas fora da Diocese de Roma, a comunicação de seu magistério para os fieis em várias partes do mundo também pobres e distantes, o apoio às 180 representações diplomáticas pontifícias espalhadas pelo mundo que servem as Igrejas locais e intervém como agentes principais para distribuir a caridade do Papa em vários países, além de ser representantes do Papa junto aos governos locais. A história do Óbolo mostra tudo isso com clareza.”

Reconhecimento

“Essas temáticas retornam periodicamente, mas são sempre ocasião de curiosidade ou polêmicas. É necessário ter seriedade para aprofundar as situações e os problemas específicos a fim de reconhecer o muito que é totalmente justificado, normal e bem administrado e distinguir onde se encontram inconvenientes a serem corrigidos, obscuridades a serem iluminadas, mazelas ou ilegalidades a serem eliminadas.”

“A isto é endereçado o trabalho difícil e complexo iniciado pelo estímulo do Papa com a criação da Coşea que concluiu o seu trabalho. A reorganização dos dicastérios econômicos, a nomeação do revisor geral, o bom funcionamento das instituições responsáveis pelo controle das atividades econômicas e financeiras”, afirma Pe. Lombardi, são “uma  realidade objetiva e incontestável”.

Fase de trabalho superada

“A publicação de grande quantidade de informações diferentes, em grande parte ligadas a uma fase de trabalho já superada, sem a necessária possibilidade de aprofundamento e avaliação objetiva, cria impressão contrária, de um reino permanente de confusão, de não transparência ou até mesmo de perseguir interesses particulares ou incorretos.”

Boa administração

“A divulgação ilícita de informações reservadas e em parte ultrapassadas não faz jus à coragem e ao compromisso com o qual  o Papa e seus colaboradores enfrentaram e continuam enfrentando o desafio de um melhoramento do uso dos bens temporais a serviço dos bens espirituais. Isto é o que deveria ser apreciado e incentivado num trabalho correto de informação para responder adequadamente às expectativas do público e às exigências da verdade. O caminho da boa administração, da correção e da transparência, continua e procede sem incertezas. Esta é evidentemente a vontade do Papa Francisco e não falta no Vaticano quem colabora com lealdade plena e com todas as suas forças”, frisa ainda o jesuíta.

Resposta de Pe. Lombardi aos jornalistas a propósito das investigações em andamento no Vaticano

“O Escritório do Promotor de Justiça junto ao Tribunal do Estado da Cidade do Vaticano, depois de um relatório da Autoridade de Informação Financeira, em fevereiro de 2015, iniciou as investigações relativas a operações de compra e venda de títulos e transações relacionadas ao Sr. Gianpietro Nattino. O mesmo escritório pediu a colaboração das Autoridades judiciárias italiana e suíça através de cartas rogatórias enviadas por vias diplomáticas em 7 de agosto de 2015.” (MJ)

(from Vatican Radio)

Francisco: comunhão dos mártires une todos os cristãos

Francisco: comunhão dos mártires une todos os cristãos


Cidade do Vaticano (RV) – O Papa enviou uma mensagem ao Fórum Cristão Global, que terminou nesta quarta-feira (4/11), em Tirana, Albânia. O encontro consultivo debateu o tema “Discriminação, perseguição, martírio: seguindo Cristo juntos”, e reuniu representantes católicos, ortodoxos, anglicanos, protestantes, evangélicos e pentecostais.

“A comunhão do mártires é o maior sinal do nosso caminhar juntos”, afirmou o Papa no texto enviado ao Cardeal Kurt Koch, Prefeito do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos.

“Penso com grande pesar na escalada de discriminação e perseguição contra os cristãos no Oriente Médio, África, Ásia e em outras partes do mundo. Este encontro demostrar que, como cristãos, não estamos indiferentes ao sofrimento de nossos irmãos e irmãs”, continua a mensagem do Pontífice.

Entendimento mútuo

“Em diversas parte do mundo, o testemunho de Cristo, até mesmo o derramamento de sangue, é uma experiência compartilhada por católicos, ortodoxos, anglicanos, protestantes, evangélicos e pentecostais. E isso é mais forte e profundo do que as diferenças que ainda separam as nossas Igrejas e Comunidades Eclesiais”, destacou Francisco.

“Possam os mártires de hoje, das mais várias tradições cristãs, ajudar-nos a entender que todos os batizados são parte do mesmo Corpo de Cristo, sua Igreja” – conclui o Pontífice – convidando a enxergar nesta “profunda verdade o chamado para perseverar em nosso percurso ecumênico em direção à uma completa e visível comunhão, crescendo cada vez mais no amor e no entendimento mútuo”. (RB)

(from Vatican Radio)

Vigário do Papa publica carta aberta à cidade de Roma

Vigário do Papa publica carta aberta à cidade de Roma

Roma (RV) – A “Carta à cidade” foi apresentada pelo Cardeal Vigário Agostino Vallini no início da noite desta quinta-feira (5/11), na Basílica de São João de Latrão – a Catedral de Roma.

Ao nominar uma “profunda e grave crise antropológica e ética” vivida em Roma, o Vigário do Papa afirma que, “em tantos, parecem perdidos o horizonte comum da experiência humana, o consenso sobre a inviolabilidade da pessoa, o tecido das relações interpessoais genuínas que se expressam na responsabilidade para com os outros e que dão sentido ao agir humano”.

Novo compromisso

Diante deste atual panorama de desconfiança, “de luzes e de sombras”, o Cardeal Vallini afirma que a Igreja é chamada a “comprometer-se em uma nova estação de renovação espiritual, de evangelização, de responsabilidade cultural e de empenho social, baseados na força da fé, para chegar às periferias geográficas e existenciais da nossa cidade”.

A “Carta à cidade” elenca, portanto, cinco pontos principais sobre os quais a Igreja pretende atuar com mais ênfase, inspirada no Evangelho, especialmente durante o Jubileu da Misericórdia.  

“O Jubileu é um dom que a Igreja de Roma pretende compartilhar com as mulheres e homens que vivem na cidade. Queremos que seja, sobretudo, um tempo consagrado a Deus para restituir ‘paz aos homens que Deus ama’. Um tempo para reordenar as relações humanas (este é o sentido originário do jubileu bíblico) e dar um novo impulso e paixão às regenerações da vida social. Nos parece uma urgência não mais adiável”.

Os desafios de Roma

O primeiro item fala sobre “antigas e novas pobrezas” no contexto do aumento da pobreza das famílias e da falta de trabalho. O texto cita o trabalho da Caritas diocesana que não pode ser substituto, todavia, das políticas públicas para a promoção da igualdade social e solidariedade.

O segundo aspecto leva em consideração a acolhida e integração dos imigrantes que, neste ano, chegaram em número recorde à Europa – cuja porta de entrada principal foi a Itália. O documento recorda o pedido do Papa Francisco para que todas as organizações religiosas abram as portas aos refugiados.

"Sociedade líquida”

O terceiro ponto desafiador é a educação. O Cardeal Vallini cita o termo “sociedade líquida”, cunhado pelo sociólogo polonês Zygmunt Bauman, para recordar que “as potencialidades das novas tecnologias são somente um instrumento que não pode expropriar a pessoa da liberdade à autodeterminação”.

E reitera: “a primeira tarefa de uma  comunidade que se preocupa com o futuro é o compromisso à educação cultural e moral”.

Comunicação

O quarto aspecto trata da comunicação que, “nos últimos trintas anos, principalmente por meio da televisão, apresenta um mundo que com frequência é um lugar horrível aonde não se teria vontade de viver”.  Como alternativa, o documento reconhece que “a complexidade atual dos meios de comunicação exige um compromisso compartilhado e orgânico”.

Para isso, o texto “propõe que todos os cristãos ligados, em diversos níveis, ao mundo da informação e da comunicação, comprometam-se em promover conteúdos que deem ênfase à relação mídia-família-cultura-solidariedade-juventude, por meio de escolhas corajosas de liberdade, também neste ambiente, com frequência fortemente condicionado dos interesses econômicos e de partes”.

Nova classe dirigente

O quinto e último ponto indica que é necessária a formação paciente de uma classe dirigente futura. “Muitas vezes, pessoas de valor não têm a força de expressar a própria vocação ao serviço do bem comum ou de incidir beneficamente sobre a sociedade, enquanto outros, por fome de poder e desejo desenfreado de enriquecer, ocupam lugares na direção e gestão das instituições sem o dom, a motivação e a competência necessária para promover programas e políticas de igualdade social em favor de todos os cidadãos”.

Por fim, ao declarar que o Jubileu da Misericórdia em um tempo de mudança de época é “uma graça para a Igreja e para cada cristão”, “todos somos chamados – afirmou o Papa Francisco – “a oferecer com mais força os sinais da presença e da proximidade de Deus. Este não é o tempo para a distração, ao contrário, é tempo para permanecer vigilantes e despertar a capacidade de olhar ao essencial”. (RB)

(from Vatican Radio)